São Paulo, Domingo, 07 de Fevereiro de 1999
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BOAS DE BOLA
Melhora nas remunerações é recente; atletas experientes dizem que a fase é boa para a entrada no mercado
Artilheira do São Paulo recebe R$ 8.000

da Reportagem Local

Apesar de a média salarial das jogadoras ainda ser baixa, especialmente se comparada aos salários pagos no futebol masculino, já existem atletas que vivem, e muito bem, do esporte.
Por enquanto, são as jogadoras mais experientes, integrantes da seleção brasileira, que recebem as melhores remunerações. Mas o aumento é recente e aconteceu depois do quarto lugar na Olimpíada de Atlanta. Antes, eram raros salários maiores que o mínimo.
Roseli de Belo, 29, atacante do São Paulo e da seleção brasileira, é uma das jogadoras que já consegue viver só do futebol. Mesmo assim, afirma que a falta de patrocinadores ainda atrapalha o crescimento do futebol feminino. Apesar disso, ela aconselha as novatas a encarar o futebol como um emprego.
"Eu vivo do futebol e consegui construir uma reserva financeira com o que já ganhei. Agora, o futebol está em uma fase de renovação, é a hora certa de entrar."
Roseli é contratada do São Paulo desde o início de 98, e seu salário chega a R$ 8.000 por mês. Começou a jogar aos 15 anos no Juventus, clube que pagava apenas uma ajuda de custo. Mas foi só aos 26 anos, pouco antes da Olimpíada, que a situação melhorou. Ela foi convidada para jogar no Japão.
"Fiquei jogando lá durante um ano e ganhava R$ 10 mil por mês. Tentaram renovar meu contrato, mas vim para o Corinthians ganhando o mesmo salário."
Para continuar no futebol, Roseli saiu de casa aos 15 anos. "Eu arrasava e sabia que ia dar certo, mas minha família, muito simples, não me apoiou. Vou jogar até quando minhas pernas aguentarem. Depois, vou trabalhar na área."
Diedja Barreto, 35, a Didi, goleira da Lusa e integrante da seleção brasileira desde 1988, trabalhou, antes, como corretora de imóveis e diz que nunca ganhou mais de R$ 1.000 por mês. Hoje, somando o que recebe do clube e do patrocinador, ganha R$ 6.000 por mês, o que, segundo ela, não ganharia em outra profissão.
"Ainda são poucas as jogadoras que, como eu, vivem só do futebol. Isso porque já jogamos há muito tempo e temos experiência em seleção", afirma Didi.
Para ela, quem tem talento deve procurar escolas de esporte ou clubes, para ser descoberta por técnicos e dirigentes.
Para a jogadora do Vasco Delma Gonçalves, 23, conhecida como Pretinha, a carreira deslanchou com a conquista do título Sul-Americano, em 1995.
"Comecei a receber convites de times estrangeiros e me valorizaram ainda mais quando fui a artilheira da seleção em Atlanta."
Seu salário é de R$ 3.000 por mês, mas a previsão é que chegue a R$ 10 mil daqui a quatro anos. "Quando o esporte for profissionalizado, a situação vai melhorar bastante."


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