São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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CRER SEM VER

Religião é tabu na vida profissional

Negociar é o melhor caminho para conseguir expressar crenças no ambiente de trabalho

Renato Stockler/Folha Imagem
Alexandra Hassanein, que diz ter sido discriminada no trabalho


ÓSCAR CURROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em tempos em que a palavra diversidade surge com freqüência no discurso de grandes companhias, é paradoxal a constatação de que, quando o assunto é religião no ambiente de trabalho, para muitos, o tema continua sendo um tabu.
Constrangimento e discriminação por violações da liberdade religiosa são algumas das ocorrências mais freqüentes -que podem acabar na Justiça.
Essa foi a saída da empresária Alexandra Hassanein, 39. Quando se converteu ao islamismo, adotou o nome Yazmin e passou a usar o "hijab" (véu) como expressão de sua ligação com Deus. Naquela época, era vendedora no setor hospitalar.
"Comecei a me sentir discriminada pela gerente, que fazia comentários como "lá vem aquela do turbante'", conta.
Os conflitos com a superior, afirma, reverteram-se em problemas cotidianos: "Davam-me mais serviço do que conseguia fazer e me proibiram de assistir a vários eventos. Eu estava grávida e não agüentei a pressão".
Hassanein foi demitida e entrou com um processo na Justiça -a sentença está prevista para sair na próxima semana.
"Procurei emprego, mas era descartada nas entrevistas ou mesmo antes delas porque, em muitos casos, solicitavam currículo com foto", conta Hassanein, que, como alternativa, decidiu investir em uma loja.
Tão difícil quanto não ser aceito na empresa em que trabalha é ser obrigado a seguir crenças das quais não compartilha. Essa é a visão do jornalista M.P., 33. Ateu, trabalhou em 2006 em uma empresa cujos proprietários eram seguidores da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
"O mais constrangedor era que me via obrigado a assistir a um ritual coletivo de agradecimento todas as segundas-feiras, no qual uma pessoa pregava e as demais comentavam", diz ele, que, três meses depois, após relatar o desconforto que sentia, foi liberado do ritual.

Jogo aberto
Ter uma conversa franca com o empregador, aliás, é o melhor caminho para solucionar as diferentes perspectivas de religião no trabalho, segundo especialistas consultados pela Folha.
"Orientamos jovens muçulmanos a ter um bom comportamento profissional, seguindo os preceitos religiosos na medida do possível", diz Sheik Jihad, vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica para a América Latina.
"Conversar com o chefe é essencial para que o homem possa orar na mesquita às sextas-feiras, e a mulher, usar o véu no expediente", exemplifica.
Para a professora da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) Fátima Motta, "ainda existe muita distância entre a religião e as empresas". "Mas algumas organizações já permitem expressões de espiritualidade, como acender incenso. Outras têm espaço para meditar ou praticar ioga. São formas de busca do sagrado."


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