São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

Próximo Texto | Índice

VOLTA POR CIMA

Mercado ainda é restrito para pacientes com câncer

Nutrir contatos e comparecer a eventos da área auxiliam na recolocação
Marcelo Justo/Folha Imagem
A professora Alba Fusco teve câncer de mama e passou por sessões de quimioterapia, mas não deixou de dar aulas para crianças

MARIA CAROLINA NOMURA
DA REPORTAGEM LOCAL

As falhas no cabelo e as sessões de quimioterapia que estavam por vir não impediram a estudante Roberta dos Santos Pinto, 24, de procurar trabalho.
A recepção dada pelos recrutadores, contudo, mostrou-lhe que, além de enfrentar o câncer, ela teria outra batalha pela frente: vencer o preconceito.
"Quando cheguei para fazer a entrevista, disseram que não poderiam me ajudar, mas me ofereceram uma cesta básica -o que recusei", conta.
Diagnosticada com linfoma (câncer no sistema imunológico) aos 19 anos, Roberta lembra que nunca pensou em desistir. "As pessoas me olhavam como se eu não fosse mais capaz porque tive câncer", comenta.
Sem conseguir emprego, começou a trabalhar como voluntária na Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (www.abrale.org.br).
A rede de contatos estabelecida rendeu-lhe uma indicação para seu emprego atual, na área de compras da Cosil Construções e Incorporações.
A saga para encontrar um trabalho vivida por Roberta é muito comum, na visão da consultora de carreira Luci Lahr, da Lahr Consultoria.
Para ela, o mercado tem dificuldade de absorver o indivíduo que não é o padrão. "Isso vale para pessoas mais velhas ou que sofreram acidentes que deixaram seqüelas físicas."
"Mas o candidato pode usar a experiência do câncer em seu favor, mostrando que é um vencedor", aconselha.

Rede
Kate Sweeney, diretora-executiva da organização internacional "Cancer and Careers" (www.cancerandcareers.org, em inglês e espanhol), acrescenta que nutrir a rede de contatos e não deixar de comparecer a eventos do setor em que atua ou gostaria de atuar ajudam a conseguir uma colocação no mercado.
Reestruturar o currículo focando mais as competências do que a cronologia da carreira também é uma boa alternativa. "A pessoa deve estar munida de respostas curtas e claras, que foquem sua atuação como profissional", aponta Sweeney.
Dúvidas sobre como falar do câncer em uma entrevista são comuns, principalmente para pessoas que tiveram a doença na infância, segundo Célia Costa, diretora do departamento de psiquiatria do hospital A.C. Camargo. "Há ainda quem adoeça em uma fase mais tardia e tema perder o emprego."
De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), 37% das 120.470 pessoas que foram diagnosticadas com câncer entre 2000 e 2003 tinham idade entre 20 e 59 anos.



Próximo Texto: "A vida fica com cara de normal"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.