|
Próximo Texto | Índice
ELOS FRÁGEIS
SP é líder de fraude em cooperativa
Estado é alvo de 38% das investigações feitas pela Procuradoria do Trabalho em todo o país
Renato Stockler/Folha Imagem
|
|
Com 26 anos, a Cooperativa Paulista de Teatro reúne atualmente 3.500 profissionais. "A iniciativa aumenta o volume de oportunidades", afirma o diretor da entidade Roberto Rosa
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No início de 2004, o professor universitário José Renato
de Campos Araújo, 37, enviou
seu currículo para faculdades.
Queria preencher melhor seu
horário dando mais aulas.
Recebeu resposta da Fiap
(Faculdade de Informática e
Administração) e, ao fechar o
contrato, foi informado de que
a escola superior contratava
seus docentes via cooperativa.
"O valor pago por aula era
maior do que a média [de mercado]. Achei que seria bom."
Ao tentar conhecer melhor o
sistema, no entanto, afirma ter
sido afastado da cooperativa.
"Enviei e-mail perguntando
quem era o presidente, quando
realizavam assembléias e de
quanto tempo era o mandato
da diretoria. Não tive resposta."
Araújo fez parte de uma das
767 cooperativas investigadas
pela Procuradoria Regional do
Trabalho de São Paulo.
O órgão moveu 113 ações civis públicas contra cooperativas de trabalho -o que representa 46% das conduzidas pela procuradoria. Há, ainda, 570
em investigação e outras 84 que
assinaram Termos de Ajustamento de Conduta, comprometendo-se a alterar procedimentos considerados ilegais.
São Paulo é recordista em casos registrados, reunindo 38%
dos procedimentos no país.
"A solução muitas vezes passa pela extinção da cooperativa", indica o procurador do
Trabalho Erich Schramm.
Quando condenadas pela
Justiça, cooperativas e empresas para as quais prestavam
serviço têm de pagar indenização e registrar em carteira os
profissionais. A relação entre a
empresa e os cooperados -que
inclui subordinação e horário
fixo de trabalho- caracteriza
vínculo empregatício.
Foi o que aconteceu em primeira instância com a Fiap.
A instituição de ensino conseguiu, contudo, suspender a sentença, e agora o processo tramita em segredo de Justiça.
O advogado José Eduardo Pastore, vice-presidente da Comissão do Cooperativismo da
OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e um dos defensores da Fiap, explica que a sentença foi suspensa e que ainda vai a julgamento.
Para Pastore, "pode haver
acordo entre as partes a qualquer momento". Mas acrescenta que o processo também pode
se estender por seis anos.
Proliferação
Educação, conta Schramm,
é uma das áreas que mais concentram irregularidades. Ao lado dos setores de transportes,
alimentação e médico, representa 60% dos casos avaliados
pelo Ministério Público.
"As cooperativas de trabalho
tiveram um "boom" entre 2001
e 2002. Hoje já se sabe que não
basta intermediar a contratação via cooperativa [para evitar
a formação de vínculo empregatício com o profissional]", diz
o professor de direito do trabalho da USP, Estêvão Mallet.
E acrescenta: "Não faz sentido que um trabalhador cooperado substitua um empregado".
Colaborou RAQUEL BOCATO , da Reportagem
Local
Próximo Texto: Sob investigação Índice
|