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entrevista do mês
PAULO NATHANAEL DE SOUZA
O presidente do conselho de Administração do Ciee discute alternativas sugeridas pelo MEC para modificar os programas de estágio
Lei tem de diferenciar estágio de emprego
ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
A melhoria da qualidade dos
estágios ofertados no país passa
por um único caminho: o aprimoramento do ensino formal.
É o que considera o presidente do Conselho de Administração do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola), Paulo
Nathanael de Souza.
Em entrevista à Folha, Souza trata do papel das faculdades
nesse processo e avalia o projeto de lei elaborado pelo MEC
(Ministério da Educação) que
altera pontos do estágio.
FOLHA - O MEC diz que é preciso
"moralizar" o estágio no país. Para o
sr., vivemos um cenário crítico quanto à aplicação desses programas?
SOUZA - O bom estágio é o que
enriquece o aluno com uma experiência que o ajuda a definir
sua opção profissional futura
com acréscimo de saber advindo da aplicação prática da
aprendizagem escolar. O fato
de episodicamente haver desvio em sua operacionalização
-por omissão da escola ou impropriedade da empresa- não
põe em xeque a importância
dele na formação dos alunos.
FOLHA - A principal crítica que se
faz ao estágio é a sua não-caracterização como etapa de aprendizagem, favorecendo a contratação de
mão-de-obra sem vínculo formal.
SOUZA - É crítica improcedente. Segundo pesquisas feitas
por agências de altíssima competência científica, mais de
90% dos estudantes que fazem
estágio atestam o benefício
agregado por eles à melhor formação. O estágio é irmão siamês do trabalho e da educação.
Não há como separar essas
três realidades. Quem julga que
se pode fazer estágio com ênfase numa delas em prejuízo das
demais nada entende do problema. O melhor caminho será
uma legislação que separe de
forma integral os universos do
estágio e do emprego formal.
FOLHA - O MEC pretende limitar a
porcentagem de estudantes nas firmas. Hoje, qual é essa relação?
SOUZA - Trata-se de uma contradição em relação à política
de inclusão dos jovens no mercado. Essa limitação parece-me
perversa e nasce do equívoco
de achar que o estágio concorre
com o emprego formal.
As causas maiores do crescente desemprego no Brasil estão em outros fatores, como o
ritmo irritantemente lento do
desenvolvimento econômico, e
não no pobre do estágio, que,
percentualmente sobre a PEA
[População Economicamente
Ativa], não representa 1%.
Reduzir a 10% do corpo social da empresa a contratação
de estagiários é retirar de milhares de jovens que não terão
alternativas de melhor se educar e aprender a trabalhar.
FOLHA - O sr. é a favor de que a fiscalização fique a cargo do MEC?
SOUZA - Não, nem o projeto de
lei atribui ao MEC essa função.
O que acho errado nesse projeto é misturarem-se dispositivos referentes à aprendizagem
dos adolescentes, que é tema da
CLT, com os estágios, que são
regulados por lei educacional.
FOLHA - Para o sr., qual é ou deveria ser o ponto crucial no debate sobre a melhoria do estágio no Brasil?
SOUZA - Só tem um caminho:
a melhoria do próprio ensino
formal. O mercado recebe das
escolas médias e superiores
alunos mal preparados e pessimamente formados. Só com a
qualificação dos cursos básico e
superior melhorará o nível dos
estagiários e, por conseguinte, a
qualidade dos estágios.
FOLHA - Para o MEC, é preciso mais
protagonismo das escolas. O que
elas poderiam fazer e não fazem?
SOUZA - Um melhor acompanhamento do desempenho dos
estagiários. Afinal, se o contrato é tripartite -escola, empresa
e estudante- e o estágio é um
ato educativo, cabe principalmente à escola responsabilizar-se pelo sucesso desse ato.
FOLHA - Seria interessante que
houvesse bolsa-auxílio mínima?
SOUZA - Não. A bolsa decorre
de tipo de curso, grau em que se
encontra o aluno e complexidade da atividade. O valor é determinado a cada caso. Nas questões de lei, é preciso cuidado
para que aspiração do ótimo
não estrague benefício do bom.
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