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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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FUNCIONÁRIOS-ESPIÕES

Para combater as fraudes, patrões adotam câmeras e investigadores infiltrados nas equipes

Detetives atuam disfarçados em empresas

Luciana Cavalcanti/Folha Imagem
Sílvio Nunziato, da Intermares, grampeou o próprio telefone para desbaratar esquema de fraude


RENATO ESSENFELDER
EDITOR-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS

Sabe aquele faxineiro simpático que assumiu o posto há pouco mais de um mês, cumpre hora extra sem reclamar e adora puxar conversa com o pessoal do seu trabalho? E se você descobrisse, de repente, que ele de fato é um detetive profissional contratado para desbaratar esquemas de fraude dentro da companhia?
Impossível? Até parece enredo de filme de Hollywood, mas, na verdade, pode estar acontecendo sigilosamente em seu ambiente de trabalho neste momento.
Isso porque nada menos do que 86% das grandes empresas do país consideram a fraude uma ameaça real à sua saúde financeira. O medo não é à toa, já que 65% delas afirmam ter sofrido algum tipo de desfalque orquestrado pelos seus próprios funcionários.
Os dados são de pesquisa concluída em novembro passado pela consultoria em gerenciamento de riscos Kroll em parceria com a ONG Transparência Brasil. Dados obtidos com exclusividade pela Folha sobre a edição 2003 do estudo, ainda inconcluso, revelam que o temor de fraudes atingiu os departamentos de RH.
O novo levantamento mostra que 98% das 2.488 empresas entrevistadas vêem os funcionários como potenciais ameaças. E mais: 33% se disseram "muito preocupadas" com os riscos envolvendo empregados mal-intencionados.
Para se livrar do problema, 54% das firmas já utilizam serviço de verificação de antecedentes antes de contratar novos profissionais. Elas checam suspeitas de enriquecimento ilícito prévio e o histórico profissional dos candidatos.

Espiões
Segundo o diretor da Kroll em São Paulo, Eduardo Gomide, a percepção do empresariado quanto às fraudes mudou. "No período inflacionário era mais fácil [maquiar desfalques]. Hoje, qualquer centavo faz diferença." Em suma, as companhias estão mais rigorosas na fiscalização.
Grandes consultorias de gerenciamento de risco, como a Kroll, a Control Risk e outras, não empregam detetives para localizar fraudadores. Em vez disso, atêm-se a números de balanços que podem indicar fraudes nas companhias.
O mercado de prevenção e apuração de desfalques, contudo, também abriga investigadores profissionais -geralmente ex-policiais e ex-militares- dispostos a seguir funcionários, instalar câmeras e gravadores ocultos para deter maus empregados.
Silvio Nunziato, proprietário da empresa de importação e exportação Intermares International, optou por usar serviços de investigação quando a firma ficou à beira da falência em razão de uma sucessão de fraudes que compreendia a venda de informações estratégicas para concorrentes.
Depois de perder sucessivos negócios, Nunziato contratou detetive para descobrir a fonte do vazamento de dados. Uma escuta telefônica -autorizada pela Justiça- colocada na sala do próprio dono da empresa mostrou que a culpada era a secretária.

Força-tarefa
Márcio (nome fictício), dono de empresa de transportes, decidiu radicalizar depois que constatou fraudes de até R$ 100 mil mensais: contratou dez detetives para agirem infiltrados na companhia.
"Eu suspeitava do pessoal da expedição, do transporte, do almoxarifado. Coloquei agentes em todos os setores", conta. Câmeras ocultas revelaram uma quadrilha organizada de 15 funcionários, que agiam juntos na firma para desviar mercadorias. Todos foram presos. Hoje, Márcio mantém dois agentes fixos para prevenir novas fraudes na companhia.



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