São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PATRICK SWEENEY E LEDA MACHADO

Boa seleção é chave para desempenho dos lucros

"Gestores gastam tempo com profissionais de nível mediano, em vez de investir mais tempo escolhendo pessoas que realmente poderiam ter alto desempenho"

DA REPORTAGEM LOCAL

No processo seletivo, a competência do entrevistador e o perfil do entrevistado são decisivos para definir se o escolhido irá crescer com a empresa ou mostrar mau desempenho. Para mostrar a visão do RH, a Folha registrou uma conversa por telefone entre Patrick Sweeney, vice-presidente da Caliper, consultoria norte-americana de gestão de talentos, e Leda Machado, diretora de RH para América Latina da Emerson Network Power.
Sweeney é filósofo e co-autor do livro "O Sucesso Tem Fórmula?" (editora Campus/Elsevier, R$ 59, 309 págs.). Foi palestrante da ExpoManagement, que terminou no dia 7/ 11, em São Paulo. Machado leciona ética e comportamento organizacional no MBA do Ibmec São Paulo. Confira trechos da conversa.(MI)

 

LEDA MACHADO - Nem todas as companhias têm planejamento para selecionar as pessoas. Na maioria das vezes, é preciso resolver um problema imediato e contratar alguém. Mas, além de se adaptar à cultura, o profissional tem de crescer com a companhia, senão será preciso fazer outra seleção em dois anos. PATRICK SWEENEY - Eles pensam: "Há uma cadeira vazia e temos de colocar alguém lá". Cometem um erro. A cadeira não está mais vazia, mas o desempenho não é o desejado. Os gestores passam a maior parte do seu tempo com profissionais de nível mediano, em vez de gastar um pouco mais de tempo com pessoas que realmente poderiam ter alto desempenho.

MACHADO - Tudo começa na seleção: se não for boa, você não irá reter essa pessoa, não importa quanto investir em desenvolvimento. SWEENEY - Se a pessoa errada é selecionada, você não conseguirá desenvolvê-la. Mas o pior é que você poderá retê-la. Há pessoas que, se fossem embora, você não se importaria.

MACHADO - Quando multinacionais contratam, a tendência é procurar pessoas com mentes controladoras. Os gestores contratam pessoas que lembram os próprios gestores. SWEENEY - É um erro clássico. Os gestores, quando vão entrevistar, conversam sobre o último emprego do candidato, onde ele estudou, falam de futebol e dizem "eu gosto dessa pessoa". Mas não sondam se o profissional tem as qualidades para preencher a vaga. Acabam com uma equipe que tem muito de seus pontos fortes, mas também muito de suas limitações.

MACHADO - No Brasil, dizem que pessoas talentosas tendem a ser arrogantes. Na entrevista, eu peço que falem deles mesmos. Quando solicito que descrevam um sucesso e um fracasso, dizem que o fracasso nunca aconteceu. SWEENEY - É bom perguntar sobre isso, porque é possível entender o quanto eles se conhecem -seus pontos fortes, suas limitações, no que podem melhorar. São ótimas perguntas, porque, no mínimo, você entenderá o quão honestos eles são sobre eles mesmos.

MACHADO - Eu recomendo: seja você mesmo na entrevista. Se você não o for, talvez seja contratado, mas não será feliz na empresa. SWEENEY - Muitas pessoas não entendem que a entrevista de emprego é para isso: ser quem você é. Uma vez, contratei para ser nosso webmaster um candidato que não se abria. Eu corri um risco, mas tivemos sorte, porque é fácil lidar com ele. Se tivesse me mostrado isso no começo, teria sido contratado na hora. Por outro lado, há entrevistas em que a pessoa diz as coisas certas, mas acaba que esse é o seu melhor desempenho. Você a contrata e diz: "Cadê a pessoa que eu entrevistei? Tragam-na de volta".

FOLHA - O candidato pode também escolher a empresa? A empresa pode se abrir para isso?
SWEENEY -
Sim. É assim que deve ser uma entrevista: o indivíduo e o gestor decidindo o que é melhor para todos. É bom o gestor visitar o site em que as pessoas se inscrevem para vagas da empresa. Ele é aberto e convidativo ou formal e distante? Em alguns sites, deve-se preencher tanta informação que os melhores candidatos não têm tempo. E os piores têm muito tempo nas mãos.


Texto Anterior: Estágios e trainees: Privilegiados, alunos são "pescados" nas faculdades
Próximo Texto: Mural
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.