|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
entrevista do mês - Douglas Stone
Segredo de ter boa comunicação é olhar para si, diz escritor
Especialista em negociação defende reflexão paralela ao momento em que se fala
MARIANA BERGEL
DA REPORTAGEM LOCAL
"A chave para ter boas conversas é ouvir a voz interior."
Com esse mote e em tom calmo, o especialista em comunicação empresarial Douglas
Stone discorre sobre como lidar com conversas difíceis
sem ansiedade e longe do clima
de acusações e ameaças.
Em entrevista à Folha, Stone, que virá ao Brasil no próximo dia 22 para participar do
Fórum Mundial de Negociação, defende a importância de
tentar compreender o outro lado antes de se autodefender.
"Quando outra pessoa está
falando, a voz interna pode bloquear a mensagem do outro",
afirma Stone, que é co-autor do
best-seller "Conversas Difíceis", do "New York Times", e
atuou como mediador em conflitos políticos na África do Sul
e naTurquia, entre outros.
Leia trechos da entrevista
exclusiva feita por telefone.
Fórum Mundial de Negociação
Quando: 22 e 23 de agosto
Onde: Teatro Alfa (rua Bento Branco
de Andrade Filho, 722)
Informações: www.hsm.com.br
FOLHA - Quais conversas são mais
difíceis para um alto executivo?
DOUGLAS STONE - Toda conversa
pode trazer conflitos, dependendo de como é conduzida.
Mas nem sempre uma decisão
importante é difícil: ela se torna
complicada ao serem envolvidas questões pessoais.
FOLHA - Como podemos facilitar
uma conversa?
STONE - A chave para ter boas
conversas é ouvir a voz interior.
O que sua voz interna diz são as
coisas que você está pensando e
sentindo, mas não dizendo.
Quando outra pessoa está falando, a voz interna pode bloquear a mensagem do outro.
FOLHA - O que posso fazer ao ver
que estou com raiva, por exemplo?
STONE - A primeira coisa é se
conscientizar disso. Freqüentemente estamos com raiva e
fingimos não estar. Pensamos
que está tudo normal, mas podemos estar dizendo e fazendo
coisas movidos pelo ódio. O segundo passo é ter uma conversa
consigo e tentar perceber o que
provocou a raiva. Quanto mais
claro isso estiver, mais facilmente você saberá como lidar
com esse sentimento.
FOLHA - Onde erramos mais?
STONE - Nós assumimos que já
conhecemos o ponto de vista
dos outros. Pensamos: "Eu sei
como eles se sentem". Mas isso
é errado. Não há curiosidade
em tentar aprender e entender.
FOLHA - Quais resultados nós teremos agindo com repreensão ou com
contribuição?
STONE - Quando agimos por repreensão, olhamos para o problema em busca de um culpado.
Por exemplo, se perco uma reunião, culpo a secretária, que
não me passou a mensagem.
Em geral, o próximo passo é estabelecer uma punição a ela.
No caso da contribuição, analiso como esse desvio de informação aconteceu e vou além:
questiono a causa de a secretária não ter dado a mensagem.
Muitas vezes, descobrimos que
algo que estamos fazendo também contribui para o problema.
Então, em vez de achar um
culpado, busca-se entender as
circunstâncias de modo que seja possível olhar para frente e
de fato resolver o problema.
FOLHA - Por que o sr. defende a comunicação aberta como norma?
STONE - Por exemplo, em uma
reunião, é comum ouvir do
CEO: "Quero que me dêem informações, mantenham uma
comunicação aberta e critiquem minhas idéias". Mas, se
ele pune a primeira pessoa que
fala ou não escuta o que ela tem
a dizer, vão considerar mais o
que ele faz do que o que fala.
Para manter a comunicação
realmente aberta e permitir
que as pessoas discordem, é
preciso recompensar também
quem discorda de sua opinião.
FOLHA - Como lidar com uma reação difícil?
STONE - A primeira coisa a fazer é escutar. Por exemplo, é
comum, ao dar um "feedback"
negativo a um subordinado, verificar que a reação dele é de
ataque, dizendo que está recebendo um "feedback" negativo
porque tem um mau gestor.
Nessa hora, a tendência é se defender dizendo que é um bom
administrador. Mas é mais eficiente dizer: "Você pensa que
sou um mau gestor. Diga-me
por que você pensa assim".
Desse jeito, é possível perceber
que algo faz sentido ou então
discordar, mas com argumentos factuais.
E uma vez que o subordinado
se sinta compreendido, tende a
agir mais racionalmente.
FOLHA - O que você diz é para qualquer profissional ou só para CEOs?
STONE - Serve até para uma
criança, para qualquer um que
se comunique por meio da fala.
Texto Anterior: Recusa de vaga na fase final deve ser expressa com transparência Próximo Texto: Sua carreira: Cosmeatria dá vigor à área médica Índice
|