São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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SUA CARREIRA

Sobreviventes dos Andes dão palestras sobre crise

PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE EMPREGOS E NEGÓCIOS

O período de 13 de outubro a 22 de dezembro de 1972, o mais angustiante das vidas dos uruguaios Alvaro Mangino e José Luis Inciarte, hoje com 50 e 55 anos, respectivamente, virou conferência em empresas depois de já ter inspirado livros e filmes.
Durante esses 71 dias, eles e outros 14 companheiros, conhecidos como os sobreviventes dos Andes, ficaram isolados na cordilheira, sob temperaturas de até -30C, após um acidente aéreo. O grupo inicial -40 passageiros e cinco tripulantes- viajava para o Chile para uma partida de rúgbi.
O caso ganhou repercussão internacional principalmente pela forma encontrada para sobreviver à falta de comida -eles se alimentaram dos colegas já mortos-, mas, como contam Mangino e Inciarte, a situação-limite que vivenciaram trouxe à tona temas comuns na rotina das empresas, como liderança, criatividade, saídas para crises e trabalho em equipe.
A conferência, organizada pela Palestrarte (0/xx/11/3501-4513), custa R$ 17 mil. Leia trechos da entrevista concedida por telefone.

 

Folha - Quais foram os momentos mais marcantes do acidente?
Alvaro Mangino -
Sobreviver ao acidente foi um impacto horrível, é algo que fica marcado para sempre. Outro [momento] foi quando houve a avalanche. Ficamos presos por três dias, estávamos às escuras, com a fuselagem coberta pela neve. Foi um momento duro, mas que nos deu força. Sobrevivemos ao acidente e à avalanche, mas tínhamos fome e sede.
José Luis Inciarte - O mais marcante foi a decisão de comer a carne humana. Houve discussões até que chegamos à decisão final. Mas passar da decisão para a ação foi difícil. Também foi dramático ouvir pelo rádio que as buscas tinham sido encerradas uma semana depois do acidente.

Folha - Quem foi o líder do grupo?
Mangino -
Isso não se impõe, surge naturalmente. Não tivemos só um líder: um era o responsável pela comida, outros, pela água, outros saíam em expedição [buscando socorro], outros contavam histórias à noite para ajudar a passar o tempo, pois as noites eram muito compridas. Tínhamos um objetivo, que era sair daquele lugar, e foi o trabalho em equipe que nos tirou de lá.

Folha - Como foi manter vivo esse objetivo sob condições tão adversas?
Inciarte -
Um ajudava o outro a manter a esperança. Eu tinha posto como data-limite o dia 25 de dezembro: depois disso, eu me mataria. E realmente morreria, porque tinha perdido 45 kg, estava com uma perna gangrenada e não tinha mais forças [O resgate chegou no dia 22].



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