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ENTREVISTA
Robert Cialdini:
"Convencer é uma arte que pode ser ensinada"
Não há nenhuma situação em que as pessoas não precisem ser persuasivas para otimizar os resultados pretendidos
A habilidade de persuadir pode ser aprendida e melhorada, segundo Robert Cialdini, psicólogo conhecido por seus estudos científicos sobre influência. Cialdini cita seis elementos, os quais ele chama de "armas
de influência", que podem ajudar no processo de convencimento. Ele vem ao Brasil para participar do
Fórum Mundial de Negociações, que será promovido
pela HSM em 23 e 24/9, em São Paulo. Leia trechos da
entrevista concedida à Folha.
(MARIA CAROLINA NOMURA)
FOLHA - O senhor fala em seis armas de influência para persuadir.
Poderia explicar quais são elas?
ROBERT CIALDINI - Geralmente,
as pessoas são persuadidas por
quem as direciona a boas escolhas e a bons caminhos.
Uma das armas a que me refiro, por exemplo, é o princípio
da autoridade. A maioria das
pessoas quer seguir o caminho
ditado por um especialista
genuíno. Na mensagem que ele
envia, percebe-se que esse
especialista conhece o assunto
de que fala. Por isso as pessoas
são persuadidas e dizem "sim",
porque serão bem orientadas e
terão boas informações.
Outro princípio é o da reciprocidade. Somos treinados,
desde a infância, a retribuir um
favor que nos tenha sido concedido [leia mais ao lado].
FOLHA - Qual dessas armas o
senhor considera mais eficaz?
CIALDINI - Eu sempre digo que
depende da situação que vivemos. Mas devemos sempre
usar o princípio que já existe
dentro de nós. Por exemplo, se
já somos um especialista em
algum assunto, devemos usar o
princípio da autoridade. Se já
fizemos um favor a alguém,
podemos pedir, de uma maneira sutil, a retribuição.
FOLHA - Em que medida a aparência física influencia a capacidade de
persuasão?
CIALDINI - Influencia bastante.
Esse, aliás, é o princípio do gostar. As pessoas tendem a dizer
"sim" àqueles de quem gostam,
porque têm compatibilidade de
pensamentos ou sentem atração física por eles. Pesquisas
mostram que, se a pessoa que
está arrecadando fundos para
caridade for fisicamente
atraente, conseguirá montantes mais significativos do que
uma pessoa sem boa aparência.
FOLHA - A habilidade de falar bem
ou o carisma podem substituir a beleza, se a pessoa não tem uma boa
aparência?
CIALDINI - Sim, essas duas coisas podem funcionar, porque a
aparência conta mais durante o
primeiro contato direto. Mas,
depois que passamos a conhecer a pessoa, são muito mais
importantes o verdadeiro caráter, a verdadeira inspiração e o
conhecimento do indivíduo.
FOLHA - A habilidade de persuadir
é inata ou é uma característica que
pode ser aprendida e melhorada?
CIALDINI - Durante muitos anos
acreditava-se que a habilidade
de persuasão era um talento
nato, como o dom para a arte.
Mas, por meio de pesquisas
científicas, percebemos que a
persuasão pode ser aprendida
porque é uma ciência, e não
apenas uma arte. Pode ser ensinada por meios científicos e,
portanto, adquirida por pessoas que não têm esse dom.
Há livros, como os meus
["Influence: the Psychology of
Persuasion", Editora HarperCollins Publishers, 336 págs.,
US$ 17,95, ou "Influência: A
Psicologia da Persuasão", sem
tradução para o português],
que falam sobre isso e tratam a
persuasão como uma ciência.
FOLHA - Qual é a importância de se
usar a estratégia da persuasão
quando lidamos com pessoas em
qualquer situação?
CIALDINI - A razão para aprender a persuasão é que essa
habilidade funciona em todas
as circunstâncias: no trabalho,
em casa, com as crianças, com
os vizinhos. Não consigo pensar em uma situação em que as
pessoas não precisem ser persuasivas para otimizar os resultados pretendidos.
FOLHA - Os gregos antigos costumavam falar em persuasão. Qual é a
diferença de significado ou de peso
que a persuasão tem hoje, em relação àquela época?
CIALDINI - Os gregos antigos
falavam da retórica e ensinavam a falar e a escrever de uma
maneira persuasiva e que fizesse com que as pessoas se sentissem mais atraídas pelas idéias
expostas. A diferença é que eles
usavam suas próprias experiências e perspectivas de vida.
Hoje, nós usamos a ciência e a
pesquisa para dar recomendações sobre como ser mais persuasivo. Com a ciência, nós temos evidência daquilo que é
melhor falar ou escrever para
ser mais persuasivo.
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