São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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NA MIRA

Fraudes corporativas e mudanças tributárias aumentam demanda por profissionais

Oferta de empregos na área fiscal cresce 10%

SILVIA BASILIO RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O impacto da fraude corporativa da Parmalat se alastrou rápido mundo afora. Revelado em dezembro, o escândalo contábil da empresa italiana não poupou a subsidiária brasileira, que pediu concordata. E gerou um efeito colateral: colocou em foco contabilistas, auditores e controladores.
Maior cobrança sobre os profissionais que atuam nessas áreas foi uma das conseqüências imediatas geradas pela eclosão de fraudes corporativas, que teve se deu há dois anos, época do escândalo da Enron. Aumentaram as fiscalizações, o rigor no cumprimento dos princípios contábeis e as punições às más condutas.
O segundo efeito é previsível: o surgimento de novas vagas, já que as empresas estão deixando o amadorismo de lado e contratando profissionais qualificados para orientar seus negócios. Estimativa do Grupo Foco, consultoria de RH (Recursos Humanos), aponta que, no Brasil, a movimentação do setor também é grande. Cresceu entre 8% e 10% a oferta de empregos nas áreas fiscal, financeira, tributária, de controladoria e de contabilidade no segundo semestre de 2003, em relação aos seis meses anteriores. "A demanda aumentou em razão das mudanças tributárias e fiscais no Brasil", justifica João Canada, vice-presidente-executivo do grupo.

Popularização
De acordo com o contador e advogado José Carlos Alcântara, 46, da Ability Auditoria e Consultoria, as consultas de clientes aumentaram 40% nos últimos dois anos. "Trabalho dez horas por dia. Jornada de oito horas não é mais suficiente atualmente."
Neli Barboza, da consultoria Manager, que presta serviços na área de RH, aponta que, com a retomada da economia, os empresários sentem hoje a necessidade de elevar o controle sobre seus custos, daí a forte procura por contadores, sobretudo nos níveis de supervisão e gerência.
O consultor de gestão de negócios Carlos Bizarro avalia que a área de controladoria ainda está distante dos quadros de funcionários das pequenas e médias empresas. "Os escândalos internacionais serviram para alertar mais o Brasil para a necessidade de ter bons controladores." Para ele, a tendência é a popularização da figura do controlador no país.

Caixa dois
No Brasil, novas regras que visam a qualidade das informações econômico-financeiras começaram a ser implementadas antes mesmo do auge das fraudes corporativas internacionais. "Hoje está mais perigoso para um contador efetivar lançamentos que não estão de acordo com a legalidade", opina Bizarro.
Embora a cultura do caixa dois (omissão de informações visando o não-pagamento de impostos) ainda seja comum no país, especialistas dizem acreditar que as empresas que sonegam tributos são cada vez mais evitadas pelos profissionais.
Foi justamente essa cautela que fez com que A.N., 34, (não quer se identificar), estudasse bem o terreno antes de aceitar convite para dirigir o departamento de contabilidade de uma companhia de São Paulo, cujo faturamento mensal é de R$ 3 milhões.
"Fiz um levantamento do balanço e vi que a empresa possuía um caixa dois expressivo. Com base nisso, resolvi não aceitar a proposta. Prezo por contas transparentes, não me envolvo em casos assim", afirma o contador.
A complexidade da legislação de impostos no país obriga a atualização permanente desses profissionais. No caso de empresas multinacionais, a tarefa é dupla: é preciso dominar também as leis e os procedimentos adotados no país-sede da companhia.



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