São Paulo, domingo, 16 de julho de 2006

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DIPLOMAS À VENDA

Falsificação pode bloquear trajetória de profissional

Recrutadores têm métodos para descobrir veracidade de informações

DA REPORTAGEM LOCAL

Se comprar um diploma falsificado não é tarefa tão complicada, ser pego com ele é ainda mais difícil. "As firmas não têm o costume de solicitar o certificado de conclusão [de curso] no momento da contratação", diz Claudia Generoso, consultora de RH da BPI.
Foi dessa maneira, lembra ela, que um profissional conseguiu se inserir em uma multinacional norte-americana.
"Eu não recomendei a contratação da pessoa, pois havia candidatos mais adequados ao perfil, mas o diretor quis."
Três meses depois, o superior descobriu a mentira. "Ela não tinha superior completo nem tinha conhecimento de informática, e ambos eram importantes para a vaga", afirma. O resultado foi a demissão.
Engana-se quem pensa que a imagem do profissional fica manchada apenas na empresa em que ele é descoberto. Uma das principais estratégias dos selecionadores para escolher o candidato ideal para o posto é contatar ex-empregadores.
"Quem é descoberto com um diploma falso tem a carreira marcada por um bom período", destaca a consultora do Hay Group do Brasil Raquel Arena.
De acordo com ela, se o trabalho exigir conhecimentos específicos que foram camuflados pelo certificado, "será questão de tempo até que a empresa perceba a falsificação".

Hora da verdade
Arena diz haver ao menos uma maneira de minimizar o impacto negativo de o profissional ser descoberto com documentos falsos quando já trabalha em uma organização. "Contar a verdade é uma alternativa. Mostra que houve iniciativa." Ressalta, contudo, que a atitude, por mais honesta que possa parecer, não impede que o funcionário seja demitido.
Conquistar um emprego, ingressar na universidade e deixar para trás matérias para as quais dizia não ter aptidão. Foram esses os três motivos que levaram A.L.B., 28, a comprar um diploma de ensino médio.
"Paguei R$ 750 pelo certificado falso, feito por ex-funcionários de uma escola", conta.
Teve parte do que queria: passou na faculdade de letras, onde ficou por dois anos, e se livrou de matemática e física.
No quinto semestre do curso, no entanto, teve uma briga com o irmão, que a delatou.
"Fui chamada para a sala da direção e me disseram que eu estava desmatriculada, que a partir daquele momento não poderia mais entrar lá."
Hoje, trabalhando como recepcionista em um salão de beleza, ela diz se arrepender de ter comprado o certificado.
Reconhece, no entanto, que seus currículos são formatados de acordo com a vaga. "Para os que não exigem muita escolaridade, escrevo que tenho ensino médio completo. Nos que requerem mais, digo que estudei até o segundo ano de letras."
Pretende voltar à escola ainda neste ano. "Quero entrar na faculdade novamente e dar aulas de literatura brasileira."
E filosofa: "Não adianta tentar pular etapas. A vida cobra tudo isso na frente".


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