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DIPLOMAS À VENDA
Falsificação pode bloquear trajetória de profissional
Recrutadores têm métodos para descobrir veracidade de informações
DA REPORTAGEM LOCAL
Se comprar um diploma falsificado não é tarefa tão complicada, ser pego com ele é ainda mais difícil. "As firmas não
têm o costume de solicitar o
certificado de conclusão [de
curso] no momento da contratação", diz Claudia Generoso,
consultora de RH da BPI.
Foi dessa maneira, lembra
ela, que um profissional conseguiu se inserir em uma multinacional norte-americana.
"Eu não recomendei a contratação da pessoa, pois havia
candidatos mais adequados ao
perfil, mas o diretor quis."
Três meses depois, o superior descobriu a mentira. "Ela
não tinha superior completo
nem tinha conhecimento de informática, e ambos eram importantes para a vaga", afirma.
O resultado foi a demissão.
Engana-se quem pensa que a
imagem do profissional fica
manchada apenas na empresa
em que ele é descoberto. Uma
das principais estratégias dos
selecionadores para escolher o
candidato ideal para o posto é
contatar ex-empregadores.
"Quem é descoberto com um
diploma falso tem a carreira
marcada por um bom período",
destaca a consultora do Hay
Group do Brasil Raquel Arena.
De acordo com ela, se o trabalho exigir conhecimentos específicos que foram camuflados pelo certificado, "será
questão de tempo até que a empresa perceba a falsificação".
Hora da verdade
Arena diz haver ao menos
uma maneira de minimizar o
impacto negativo de o profissional ser descoberto com documentos falsos quando já trabalha em uma organização.
"Contar a verdade é uma alternativa. Mostra que houve iniciativa." Ressalta, contudo, que
a atitude, por mais honesta que
possa parecer, não impede que
o funcionário seja demitido.
Conquistar um emprego, ingressar na universidade e deixar para trás matérias para as
quais dizia não ter aptidão. Foram esses os três motivos que
levaram A.L.B., 28, a comprar
um diploma de ensino médio.
"Paguei R$ 750 pelo certificado falso, feito por ex-funcionários de uma escola", conta.
Teve parte do que queria:
passou na faculdade de letras,
onde ficou por dois anos, e se livrou de matemática e física.
No quinto semestre do curso,
no entanto, teve uma briga com
o irmão, que a delatou.
"Fui chamada para a sala da
direção e me disseram que eu
estava desmatriculada, que a
partir daquele momento não
poderia mais entrar lá."
Hoje, trabalhando como recepcionista em um salão de beleza, ela diz se arrepender de
ter comprado o certificado.
Reconhece, no entanto, que
seus currículos são formatados
de acordo com a vaga. "Para os
que não exigem muita escolaridade, escrevo que tenho ensino
médio completo. Nos que requerem mais, digo que estudei
até o segundo ano de letras."
Pretende voltar à escola ainda neste ano. "Quero entrar na
faculdade novamente e dar aulas de literatura brasileira."
E filosofa: "Não adianta tentar pular etapas. A vida cobra
tudo isso na frente".
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