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São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2003

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DE PAVIO CURTO

Com o desânimo "minando" a performance dos candidatos, quem não se abala tem mais chances

Persistente leva vantagem sobre os "ariscos"

DA REPORTAGEM LOCAL

Que a situação de desemprego no país é alarmante todos já sabem. Porém, a maneira como cada profissional reage a ela é o que definirá as suas chances de sobrevivência, alertam os especialistas. Afinal, "soltar os cachorros" no meio de um processo seletivo continua sendo a maneira mais rápida de ser descartado.
Na opinião de Thomas Case, fundador do Grupo Catho, nervosismo, ansiedade e angústia são companheiros inevitáveis de quem busca recolocação. Mas se entregar ao desânimo é uma atitude a ser firmemente combatida.
Para quem acha que a medida é impossível, Case defende que há uma razão matemática para manter a esperança: "A filosofia do "eu tenho poucas chances" é completamente infundada", comenta. "Mais de 50% dos recrutamentos envolvem um número máximo de cinco pessoas. Na prática, as chances em cada processo de seleção são de cerca de 20%", avalia.
A teoria de que a persistência traz vantagens tem alguns exemplos práticos. Uma semana depois de enfrentar suposta seleção para professora -que, na verdade, rendeu-lhe uma oferta como vendedora- Zenaide Poludo viu outro anúncio parecido no jornal.
"Hesitei em ir, sem acreditar que a posição existisse, por causa do que tinha passado antes." Ainda assim, Poludo venceu a incredulidade, entrou na seleção e acabou conseguindo o emprego de professora de teatro que queria. "Fui ver para crer", conta.
Já a experiência de B. (que pediu para não ser identificado), 25, que procura uma vaga na área de informática há cerca de oito meses, mostrou o contrário: ele foi descartado porque, segundo os selecionadores, assumiu um comportamento "inadequado".
"Era a segunda empresa que eu visitava no mesmo dia, e tinha saído com muita raiva da primeira entrevista." Nervoso, ele acabou expondo a irritação com provocações aos outros candidatos durante a dinâmica de grupo. "A psicóloga me chamou, comentou o fato e disse que eu estava fora."
O estudo sobre desemprego do Grupo Catho aponta ainda um dado inusitado sobre rejeição de vagas. De acordo com a pesquisa, 44,73% dos executivos desempregados já recusou uma proposta de trabalho recebida durante o período de desemprego. O índice sobe para 55% entre diretores.
A baixa remuneração foi o principal motivo (52,11%) para a recusa da proposta de emprego. Outros 20,08% dos executivos ouvidos disseram que não gostaram do trabalho oferecido, e 16,62% reclamaram da distância entre a residência e o emprego.

Criatividade
Há dez meses procurando uma vaga na área de marketing, Hen- riane Morelli, 33, acabou inventando algumas soluções para não ser tomada pelo desespero. E a idéia foi construída justamente a partir da via aberta por vagas que ela recusava disputar.
"A maioria dos telefonemas que recebo é para posições que não me interessam. As empresas oferecem emprego de recepcionista e de balconista, ou cargos de gerência com salário muito baixo."
Nesse casos, Morelli costuma aproveitar o contato telefônico para "investigar" ao máximo qual é a real necessidade da companhia. "Se for viável, ofereço um serviço de consultoria que pode ser útil. Deu certo algumas vezes."
A profissional comenta que, no cenário atual, os papéis de selecionador e candidato de certa forma "se inverteram". "Virou uma via de mão dupla. Hoje, nós -que estamos procurando-, já filtramos as vagas e assumimos uma postura mais ativa no processo."

Para o ano que vem
Desligado em agosto de 2002 da empresa em que trabalhava, o técnico em eletrônica Rafael Minhoto, 38, aproveitou os primeiros meses de desemprego para concluir a faculdade de tecnologia. Para se manter, fez "alguns bicos" na área de atuação, conta.
De lá para cá, com as reservas financeiras se esvaindo, Minhoto voltou a batalhar um lugar ao sol no mercado. "Espalhei currículos, mas não consegui nada. E os "bicos" foram diminuindo também. Isso causa muita irritação, mas tento manter a cabeça no lugar. Acho que só vou conseguir uma oportunidade no ano que vem."
Já o engenheiro de segurança do trabalho Gilberto Bressiani, 45, admite que, a cada vez que volta de uma das duas entrevistas de emprego que costuma fazer semanalmente, sente que está menos estruturado para a espera.
"A cada decepção vou ficando mais incrédulo. Já estive desempregado em outros períodos da carreira, mas nunca foi tão difícil quanto desta vez", comenta.
Em diversas situações, Bressiani abandonou a seleção, retirando-se da companhia sem falar com mais ninguém. "Se espero mais de uma hora no local sem ser atendido, já começo a me sentir muito desgastado. A partir daí, geralmente vou embora", explica.


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