São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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O CAMINHO DO EMPREGO

Infra-estrutura é obstáculo dentro e fora das empresas

Falta de acessibilidade é impeditivo para inserção no mercado de trabalho

DA REPORTAGEM LOCAL

"Na cidade, em geral, falta sinalização para deficientes visuais." O responsável por testes de sistemas de informática Juliano César Ribeiro, 24, que mora em Planaltina (cidade- satélite de Brasília) e trabalha na Cast, empresa de tecnologia localizada na capital federal, cita o exemplo da rodoviária, ainda pouco acessível a cegos.
É por lá, no entanto, que tem de passar quando segue para a companhia. Há uma segunda opção de condução -um ônibus intermunicipal que segue direto para a empresa-, mas ele diz preferir a primeira, que exige que o profissional troque de linha no terminal rodoviário, quando deseja chegar um pouco mais cedo ao trabalho.
"A volta é mais rápida", garante Ribeiro, que está no primeiro semestre da graduação em informática.
Na empresa, contudo, assegura não enfrentar dificuldade. Foram investidos R$ 3.000 em um software para cegos e feitas adaptações para garantir a acessibilidade do edifício.
Para a gerente da divisão de reabilitação profissional da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais), Eliana Victor, além de Brasília ou Planaltina, outras cidades precisam oferecer mais infra-estrutura para deficientes. "Não há transporte suficiente e semáforos adaptados", afirma a gerente, referindo-se à capital paulista.
A gerente diz conhecer casos de profissionais que tiveram de recusar o emprego porque, mesmo a empresa sendo totalmente adaptada, a falta de acessibilidade em locais públicos os impedia de chegar ao trabalho.
A falta de estrutura, especialmente a logística, também é apontada pelo diretor da Michael Page Marcelo de Lucca como uma das barreiras que esses trabalhadores têm de superar no mercado. No ano passado, a consultoria traçou um projeto de inclusão com 820 deficientes -seus currículos foram encaminhados para o departamento de RH de grandes companhias.
"Diziam que a firma não estava arquitetonicamente capacitada", diz, acrescentando que foram contratados menos de dez profissionais.

Perspectiva
Sandra Perito, presidente do Instituto Brasil Acessível, traça um cenário positivo, mais inclusivo -mas a longo prazo. De acordo com ela, a legislação determina que as novas construções sigam alguns padrões de acessibilidade.
"É mais rápido para o empresário fazer adaptações do que para o Estado", opina ela, acrescentando que o processo de inclusão de deficientes "é o início de uma mudança cultural".


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