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sua carreira
Filme expõe profissionais a extremos
Em "O que Você Faria?", candidatos se digladiam em busca de uma vaga para executivo
CÁSSIO AOQUI
EDITOR-ASSISTENTE DE EMPREGOS E
CARREIRAS
Até onde você iria para garantir seu emprego? Qual o
gesto mais extremo que faria
para agradar à empresa?
Com essas duas questões
provocativas e centrais, o que
seria um simples processo de
recrutamento de executivos
transforma-se num palco de
cinismo, competitividade acirrada e questionamentos morais
no ácido "O que Você Faria?"
("El Método"), do diretor argentino Marcelo Piñeyro, vencedor de dois prêmios Goya e
que tem estréia prevista para
agosto nas telas brasileiras.
A história se desenvolve em
torno da seleção para um cargo
de diretoria, disputado por sete
executivos com históricos profissionais diversificados e personalidades opostas, entre os
quais estão o profissional
"sabe-tudo", o machista, a jovem segura de si e o proativo.
Entre as atividades impostas
aos aspirantes à vaga aparecem
cenas comuns em dinâmicas de
grupo, como a escolha de um
líder, a simulação de uma guerra em que só os mais fortes sobrevivem e uma atividade envolvendo fluência em idiomas.
A diferença é que, para cada
tarefa, que chega a extremos
como almoçar comida podre,
um participante é eliminado,
dando à seleção ar de "Big Brother", só que para executivos.
O que é mais estridente em
"O que Você Faria?" é a degradação dos personagens à medida que o teste, baseado numa
"metodologia inovadora" chamada Grönholm, se desenrola.
O título do filme em português,
aliás, vem a calhar. Durante as
atividades vividas pelos personagens, a impressão é a de que
Piñeyro testa o espectador.
Graças às semelhanças
-exacerbadas, é verdade- com
a busca por um emprego na vida real, fica difícil não se projetar na tela e, no meio do filme,
deparar-se com a incômoda
pergunta: "O que eu faria?"
"Eu e Mateo Gil [roteirista]
ouvimos relatos de executivos.
Se essas provas parecem cruéis,
digo que são todas reais. E olha
que descartamos outras que
eram muito fortes para colocar
num filme. Soubemos de coisas
de dar pavor", afirma Piñeyro.
"O processo de seleção de altos executivos por uma multinacional virou a metáfora ideal
sobre as relações de poder
que se constroem na sociedade.
A tensão provocada pela seleção faz com que os sete executivos comecem a demonstrar dolorosas rupturas entre os papéis sociais que representam e
o que são de verdade", explica.
Cínico ou esperançoso,
Piñeyro dá seu recado numa
das cenas finais, em que a última eliminada deixa a seleção:
ao sair do modernoso prédio
que abriga a sede da empresa,
depara-se com a rua em destroços, resultado da passagem de
manifestantes contra a globalização. Sem perceber, a profissional passa rapidamente por
um cartaz anti-FMI na parede,
em que se destaca a mensagem
"outro mundo é possível".
"O que Você Faria?" ("El Método")
Espanha/Argentina/Itália
Estréia prevista para agosto (haverá apresentação no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, de 10 a 16 de julho)
Site: www.artfilms.com.br
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