São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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"Perdi muito tempo com álcool", diz ex-dependente

FREE-LANCE PARA A FOLHA

A antiga legislação brasileira tratava a dependência química como contravenção e não motivava o usuário a obter ajuda. Com a nova lei, que passou a vigorar neste ano, o dependente passou a ser visto como doente, o que facilitou a identificação do usuário na empresa.
Apesar de não ter contado com a atualização da lei, Élcio Xavier de Souza, 57, aposentado, teve a ajuda da empresa em que trabalhou por mais de 20 anos, a Polidura, na época instalada em Guarulhos (Grande São Paulo). Era operador de reator e começou a usar álcool aos 30 anos. Durante os 23 anos de alcoolismo, a família foi quem mais sofreu com brigas e desentendimentos.
No trabalho, por vários anos, a empresa mandava motoristas irem buscá-lo em casa. "Eu vivia alcoolizado, faltava muito, e a minha produção era ruim. Perdi muito tempo com o álcool."
Em 1995, a mulher, Fanita Carvalho de Souza, 54, resolveu procurar a empresa e pedir ajuda. A Polidura passou a acompanhar o problema mais de perto e, após análise do médico do trabalho, e em comum acordo com a família, ele foi para uma clínica de reabilitação e desintoxicação para dependentes de álcool e drogas.
Segundo Souza, a internação foi uma das motivações que teve para abandonar o vício. Ficou internado por cerca de três meses. A mulher e os filhos o visitavam constantemente. A mulher diz que ele se tornou outra pessoa. "Está mais tranqüilo e dedicado à família."
Já L.C., 33, que pediu para não ser identificado, esteve internado por sete vezes. Os custos foram pagos pela empresa em que trabalhava na época, uma pequena indústria do setor químico instalada na zona leste da cidade de São Paulo.
Aos 20 anos, começou a usar maconha, passou para a cocaína em pouco tempo, depois, para a heroína e, por fim, para o crack. "Meu objetivo era usar a droga a qualquer custo. Era um doente, tenho de admitir."
L.C. diz que desconfiava de tudo e de todos, ficou seis meses sem dormir e só consumia alimentos líquidos. Ele conta que roubou, traficou, foi preso em cativeiro e ameaçado de morte por causa de dívidas com traficantes.
"Escondi tudo da minha família. Só resolvi abrir o jogo quando não agüentava mais", recorda. "A chance que me deram foi maravilhosa. Existiu tolerância por parte de meus parentes e da empresa em que trabalhava com relação à minha dependência química."


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