São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2008

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Artigo

Duas vidas em uma


Temos de refletir se unir trabalho e atividades pessoais é realmente perda de liberdade

ELAINE SAAD
ESPECIAL PARA A FOLHA

A modernidade e a evolução que a tecnologia tem propiciado certamente mudaram a forma de conduzir a vida pessoal e o trabalho. É comum ouvirmos as pessoas falando sobre a tentativa difícil de separar a vida profissional da pessoal.
Esforçam-se para reproduzir um modelo antigo e ultrapassado, em que não havia esse nível de tecnologia na comunicação e tínhamos de separar essas vidas completamente. Quando pensamos nas nossas várias tarefas e nas facilidades tecnológicas disponíveis hoje, não é mais possível conceber a idéia de que isso seja feito da mesma forma de antes.
O celular, o acesso aos e-mails por aparelhos móveis, a internet sem fio e as "n" formas de comunicação não nos aprisionam à vida do trabalho.
São formas de nos libertar para que essas duas vidas coexistam de forma harmônica, sem a divisão rígida de antigamente, em que se começava a trabalhar às 8h, acabava-se às 18h e, a partir daí, estávamos liberados para nossos papéis familiares e pessoais.

Naturalidade
Hoje podemos trabalhar em casa mas também podemos escolher, do trabalho, o cinema a que vamos à noite, sem que isso prejudique a produtividade.
Fazemos isso com tanta naturalidade que nem percebemos. A tecnologia está fazendo com que nós tenhamos a liberdade de escolher onde, quando e como podemos equilibrar nossas duas vidas.
Podemos conversar com amigos pelo celular ou por mensagens de texto durante o expediente e continuar trabalhando. Também podemos, numa mesa de bar, à noite, responder a um e-mail urgente de alguém que está em outro país.
É possível comprar, pela internet, do trabalho, um livro que nos interessa. Da mesma forma, podemos enviar, no domingo à noite, um e-mail que facilitará a vida dos colaboradores da empresa, pois terão acesso à informação logo cedo na segunda-feira.
Muitos profissionais ainda não se deram conta desse aspecto libertador da tecnologia. Chegam à conclusão simplista de que sua empresa está fazendo-os trabalhar nos fins de semana. Já as companhias avaliam que o profissional virou um workaholic. Isso não é necessariamente verdade.
Junto com a evolução da tecnologia, a visão do hábito e da rotina das pessoas e de como elas reorganizam suas vidas também tem de evoluir.
Precisamos estar preparados para entender que, junto com a tecnologia, o comportamento também muda. Se tentarmos olhar a conduta humana com os mesmos olhos de anos atrás, quando a disponibilidade de informação era outra, vamos fazer uma análise errada.

Cautela
É claro que o profissional tem que estar atento e tomar cuidado se uma das vidas está se sobrepondo à outra.
Mesmo com todas as oportunidades da tecnologia, não podemos deixar que as atividades da vida profissional tomem conta da vida pessoal.
A cada geração, o "mix" entre elas aumentará exponencialmente. Os jovens de hoje, por exemplo, conseguem misturá-las, lidando com vários compromissos e estímulos ao mesmo tempo.
Na próxima vez que virmos alguém respondendo a um e-mail no fim de semana ou escolhendo um filme às 15h de uma quarta-feira, deveremos refletir se isso não é a liberdade de poder misturar as vidas e torná-las mais eficientes.
Não teríamos chegado finalmente à liberdade pela qual tanto lutamos durante anos? Muitas vezes é difícil identificar um sonho realizado, porque nos acostumamos tanto a lutar por ele que simplesmente não nos damos conta de que parte dele pode já ter chegado.


ELAINE SAAD é "country manager" da Right Management para a América Latina e presidente da ABRH-SP (Associação Brasileira de Recursos Humanos)


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