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CABO-DE-GUERRA
Competitividade mina forças no ambiente organizacional
Disputa entre colegas é a principal fonte de insatisfação, indica pesquisa
Andre Porto/ Folha Imagem
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Concorrência entre colaboradores é estimulada pelas empresas; saiba os prós e contras desse desafio |
RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL
Marcada pelo ingresso de
empresas estrangeiras no
mercado brasileiro, a década de
1990 não apenas registrou o
aumento da concorrência entre
companhias como também o
incremento da disputa entre
profissionais nos escritórios.
A rivalidade é velada, mas, no
dia-a-dia, os trabalhadores buscam atingir o mesmo objetivo:
destacar-se entre os colegas.
Reduzir custos, aprimorar processos e aumentar o capital da
firma -tornando-se peça-chave no ambiente corporativo-
podem ser lances decisivos no
jogo da empregabilidade e no
da ascensão profissional.
"Essa competitividade pode
ser absolutamente funcional",
diz a professora da Fundação
Dom Cabral Betania Tanure.
A disputa, afirma ela, seria um
estímulo à superação, especialmente quando as regras da empresa são claras e justas.
O problema, aponta Tanure,
é que essa disputa tem afetado
profissionais negativamente.
Pesquisa realizada anualmente
por ela mostra que, em 2005, a
competitividade, ao lado da falta de confiança e de cooperação
de equipes, é o principal motivo
de insatisfação de 710% dos
1.000 executivos entrevistados.
Em 2002, o índice era de 67%.
"A empresa saudável tem estilo agridoce", compara. O azedo da corporação é a competitividade; o doce, a cooperação.
Combinar esses dois ingredientes de maneira equilibrada, segundo Tanure, é um paradoxo
cada vez mais presente no cotidiano das grandes firmas.
Para o diretor da Nestlé Carlos Faccina, autor do livro
"O Profissional Competitivo:
Razão, Emoções e Sentimentos
na Gestão", essas são qualidades que se completam. "A competitividade é a colaboração
que o profissional dá para si,
para o grupo e para a empresa."
Apesar de afirmar que "todas
as pessoas são competitivas por
natureza", assinala que há casos em que o excesso é nocivo.
"São pessoas que desagregam
e não aceitam que os outros tenham idéias melhores", define.
Sem estabilidade
A economista M.V., 28, diz
conhecer o ônus de ser subordinada a alguém competitivo.
Há dois anos, após passar em
um concurso, foi admitida como escriturária em um banco.
Ao ingressar, contudo, teve
de conviver por oito meses com
uma chefe que não lhe passava
informações sobre a função.
"Ela tinha medo que eu tomasse o seu lugar", considera.
"Tive receio de fazer algo errado. Chegava em casa depois
do expediente e chorava", diz,
explicando por que pediu demissão, deixando a estabilidade
e o plano de carreira para trás,
mesmo sem ter outro emprego.
"Sempre fui competitiva, mas
respeito o talento individual",
resume ela, que mudou de área.
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