São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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CABO-DE-GUERRA

Competitividade mina forças no ambiente organizacional

Disputa entre colegas é a principal fonte de insatisfação, indica pesquisa

Andre Porto/ Folha Imagem
Concorrência entre colaboradores é estimulada pelas empresas; saiba os prós e contras desse desafio


RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Marcada pelo ingresso de empresas estrangeiras no mercado brasileiro, a década de 1990 não apenas registrou o aumento da concorrência entre companhias como também o incremento da disputa entre profissionais nos escritórios.
A rivalidade é velada, mas, no dia-a-dia, os trabalhadores buscam atingir o mesmo objetivo: destacar-se entre os colegas. Reduzir custos, aprimorar processos e aumentar o capital da firma -tornando-se peça-chave no ambiente corporativo- podem ser lances decisivos no jogo da empregabilidade e no da ascensão profissional.
"Essa competitividade pode ser absolutamente funcional", diz a professora da Fundação Dom Cabral Betania Tanure. A disputa, afirma ela, seria um estímulo à superação, especialmente quando as regras da empresa são claras e justas.
O problema, aponta Tanure, é que essa disputa tem afetado profissionais negativamente. Pesquisa realizada anualmente por ela mostra que, em 2005, a competitividade, ao lado da falta de confiança e de cooperação de equipes, é o principal motivo de insatisfação de 710% dos 1.000 executivos entrevistados. Em 2002, o índice era de 67%.
"A empresa saudável tem estilo agridoce", compara. O azedo da corporação é a competitividade; o doce, a cooperação. Combinar esses dois ingredientes de maneira equilibrada, segundo Tanure, é um paradoxo cada vez mais presente no cotidiano das grandes firmas.
Para o diretor da Nestlé Carlos Faccina, autor do livro "O Profissional Competitivo: Razão, Emoções e Sentimentos na Gestão", essas são qualidades que se completam. "A competitividade é a colaboração que o profissional dá para si, para o grupo e para a empresa."
Apesar de afirmar que "todas as pessoas são competitivas por natureza", assinala que há casos em que o excesso é nocivo.
"São pessoas que desagregam e não aceitam que os outros tenham idéias melhores", define.

Sem estabilidade
A economista M.V., 28, diz conhecer o ônus de ser subordinada a alguém competitivo. Há dois anos, após passar em um concurso, foi admitida como escriturária em um banco.
Ao ingressar, contudo, teve de conviver por oito meses com uma chefe que não lhe passava informações sobre a função. "Ela tinha medo que eu tomasse o seu lugar", considera.
"Tive receio de fazer algo errado. Chegava em casa depois do expediente e chorava", diz, explicando por que pediu demissão, deixando a estabilidade e o plano de carreira para trás, mesmo sem ter outro emprego. "Sempre fui competitiva, mas respeito o talento individual", resume ela, que mudou de área.


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