São Paulo, domingo, 20 de junho de 2004

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MESA-REDONDA

Especialistas debatem mercado de trabalho

DA REDAÇÃO

Em busca de um emprego ou à procura de um emprego? Apesar da sutil diferença, especialistas em recursos humanos acreditam que a forma de encarar a situação faz toda a diferença. A convite da Folha, quatro especialistas discutiram o tema.
Confira trechos da conversa entre Gilberto Guimarães, diretor da BPI do Brasil, Iêda Novais, sócia-diretora da Mariaca & Associates, Robert Wong, ""headhunter" da Korn/Ferry International, e Simon Franco, presidente da Simon Franco Recursos Humanos/TMP Hudson Highland Group.

 

BUSCA DE EMPREGO

Wong - Quando diz a palavra "procura", a pessoa parece não saber ao certo o que quer. O que nós temos notado é que, na maioria dos casos, olhando o currículo de uma pessoa, você percebe que quase 100% dos empregos dela foram obtidos de forma reativa. Ou seja, alguém tomou uma iniciativa, e ela reagiu diante dessa oportunidade. O ideal seria dizer "buscar" um emprego. É raro alguém fazer isso de forma proativa.

Guimarães - Olhando para os programas de trainees, percebemos que os jovens se inscrevem em todos eles. Eles não projetam.

Novais - Nossa cultura é paternalista. A pessoa pede um emprego, e a empresa o dá a ela. A mentalidade de procurar de uma forma focada ainda não existe.

Guimarães - O mercado tem ferramentas que ajudam as pessoas a descobrir o que gostam de fazer e que competências têm. Mas elas não fazem esse levantamento.

Franco - A pessoa está embaixo de todo o mecanismo do mercado [que obriga as empresas a serem mais competitivas]. Se não apresentar resultado, não tem jeito.

 

PERFIL

Wong - A autoconfiança faz a diferença. E o que nos dá autoconfiança é o autoconhecimento. Só que a maioria das pessoas não se conhece.

Guimarães - Há cinco características fundamentais: o autocontrole, a capacidade de influenciar pessoas, a de comunicar, a de abrir mão de algumas coisas e a de antecipar o que vai acontecer.

 

QUALIFICAÇÃO

Wong - É ingênuo pensar que todo mundo faz tudo por paixão, porque, para muitos, trabalhar é realmente uma questão de necessidade. Mas posso mudar minha atitude ante as coisas. Se a única oportunidade que aparece em um determinado momento é a de empacotador, vou aceitar e ser o melhor porque isso vai proporcionar outras opções. A diferença está na atitude. É difícil você fazer as coisas da melhor forma possível e ninguém notar.

Novais - Antes, um diploma garantia um emprego na área. Hoje, a concorrência é bem maior. É por isso que há a necessidade de se aperfeiçoar tanto. É possível que as pessoas, mesmo com um certo diploma, tenham de trabalhar em funções "inferiores" à qualificação que têm.

Franco - Vamos ser práticos: se alguém coloca um anúncio no jornal e aparecem 50 pessoas com todas as características pedidas, como é que se vai decidir? A verdade é que se escolhe o sujeito cuja atitude é a mais adequada. Só que ele não sabe que atitude é essa, muito menos que será escolhido por meio desse critério. Em entrevistas, percebo que as pessoas vêm muito na defensiva. Elas querem que a gente vá revelando informações para que possam assumir a cor do camaleão mais adequada. Só que o entrevistador também tem um problema: vai ser cobrado para preencher a vaga rapidamente e torce para que aquele candidato seja a pessoa que ele procura.

Wong - Existe aquela frase que diz que "raramente você tem uma segunda chance de causar uma boa primeira impressão". Mas uma pessoa causa uma boa impressão quando é ela mesma.

Franco - O problema é que, em geral, a pessoa vai para uma entrevista de emprego insegura. É difícil ter essa autenticidade. O mercado tem oportunidades em grande quantidade para as pessoas altamente qualificadas, mas elas não se oferecem a pessoas desajustadas, que têm problemas de atitude. Empresa não é igreja, empresa foi feita para vencer. Ela não vai contratar o sujeito que não é o melhor.

Novais - Na minha opinião, a perda de emprego é o segundo maior estresse que se tem na vida, atrás apenas da perda de uma pessoa muito próxima. Com ele, vem o medo de não arranjar outra coisa. Ninguém está preparado para perder o emprego.


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