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ENTREVISTA
"Lixólogo" é profissão do futuro, diz professor
UFMG mapeia 82 carreiras que serão necessárias daqui a 2 décadas
MÔNICA RIBEIRO E RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O trânsito caótico das grandes metrópoles tem solução? E
será que é possível antever catástrofes naturais, com embasamento científico? Se depender de um grupo de professores
universitários, sim. Para colocar isso em prática, e em um futuro não tão longínquo, um estudo projetou as profissões que
deverão ser criadas daqui a
duas décadas, no máximo.
Coordenado pelo professor
de arquitetura Carlos Antônio
Leite Brandão, 49, o Ieat (Instituto de Estudos Avançados
Transdisciplinares), da UFMG
(Universidade Federal de Minas Gerais), elaborou um estudo em que as observações socioambientais, culturais e tecnológicas atuais direcionam à
necessidade de novas funções
no mercado de trabalho.
Com base nas projeções,
Brandão comenta algumas das
82 profissões levantadas como
necessárias e que deverão ter
um amplo mercado de trabalho
no futuro. A relação completa
deverá ser publicada em um livro de sua autoria, que ainda
não tem data de lançamento.
FOLHA - Quais problemas contemporâneos deram a idéia de gerar o
estudo?
CARLOS BRANDÃO - Existem os da
violência, de políticas públicas,
ambiental, ético, das cidades,
de como lidar com a quantidade de informações que temos e
como filtrar e organizá-las. São
vários problemas que podem
ser resolvidos com profissionais capacitados em funções
que não existem, por enquanto.
FOLHA - O senhor pode citar alguns
exemplos?
BRANDÃO - Sim. O "socioambientalista", que será um analista nas questões do ambiente
incluindo a comunidade local;
o "lixólogo", que será um gestor
de resíduos, dando solução aos
detritos no meio urbano. Há
também o especialista em gestão de grandes metrópoles, que
não só administrará mas irá resolver, dentro das tecnologias
operantes, aquilo que não é resolvido apenas com a engenharia de tráfego. Será uma profissão necessária para ajudar a
desfazer o caos urbano.
FOLHA - Há um curso universitário
que possibilite ao estudante desempenhar uma profissão do futuro?
BRANDÃO - Sim. Graduados em
engenharia, medicina, arquitetura ou gestão em ambiente poderão se tornar especialistas
em epidemia e desastres contemporâneos, por exemplo.
Eles serão os profissionais que
vão estudar as medidas preventivas para acidentes decorrentes da globalização, como a gripe aviária, que abalou a economia de vários países, e os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 [nos EUA], em que
um número enorme de pessoas, incluindo de outras nacionalidades, morreu. Há ainda o
"life designer" [projetista de
formas de vida]. Nessa função,
o especialista usará seus conhecimentos para criar bactérias
que limpem o ar poluído das
metrópoles ou de rios, como o
Tietê. Quem estudar biologia
poderá realizar essa função
num futuro próximo.
FOLHA - Como foi elaborado o estudo?
BRANDÃO - Junto à comunidade acadêmica da UFMG, com
entrevistas a pesquisadores de
várias áreas, num período de
quatro meses. O questionamento foi direcionado à opinião dos estudiosos sobre o
perfil ideal de profissional do
futuro e como ele descreveria a
função e a formação desse profissional.
FOLHA - As projeções, então, possuem embasamento científico?
BRANDÃO - Sim.
FOLHA - O futuro dessas profissões
é para quando?
BRANDÃO - Depende da profissão. Em energia ou gestor em
águas, terão uma proeminência
imediata, daqui a cinco anos.
Outras, como o criador de nanorrobôs que serão utilizados
no meio médico e poderão ser
inseridos na corrente sangüínea para desentupir veias, daqui a 15 ou 20 anos. A graduação pode ser na medicina ou na
robótica.
É possível, ainda, fortalecer
esse conhecimento complementando com uma outra graduação ou especialização.
FOLHA - As profissões clássicas, como medicina e direito, irão desaparecer?
BRANDÃO - Essas profissões
continuarão dominando o mercado de trabalho. Porém, para
sobreviver, terão de ser exercidas com outras competências e
campos de conhecimento.
FOLHA - Quais habilidades o profissional do futuro, independentemente da formação, deve possuir?
BRANDÃO - Primeiro: deve fazer aquilo que é do seu potencial, sem se preocupar com o
mercado atual, com o salário
que vai receber. Assim, ele poderá desenvolver seus gostos e
desejos internos. Depois, ser
capaz de articular o conhecimento adquirido na sua especialidade com outra área de conhecimento, como medicina e
ética ou direito e informática,
para trabalhar com a questão
do direito autoral, por exemplo.
É estar aberto a conexões com
outros campos. E, por fim, saber trabalhar em grupo e desenvolver uma capacidade crítica e imaginativa, para dar solução a problemas cada vez
mais inéditos de maneira rápida. Mas sempre colocando a
questão ética como primordial.
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