São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Velada, pressão social prejudica

Profissional novato sujeita-se a situações constrangedoras por medo de perder o emprego

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se, na física, a fórmula da pressão é o quociente entre a força exercida e a área em questão, no ambiente de trabalho, poderia ser adaptada para a tarefa exigida (a contragosto) sobre experiência do profissional.
Geralmente velada e incontestável, a pressão social -que faz com que funcionários se submetam à maioria, contrariando seus desejos e valores- cresce à medida que o profissional, sobretudo o novato, deseja ser aceito pelo grupo.
Foi o que aconteceu com Camila (nome fictício), 28, quando foi contratada por um grande banco. Nos primeiros dias de trabalho, os colegas de departamento a convidaram para comemorar o "happy hour" em um bar da região. Com um detalhe: ela pagaria a conta.
Os chopes e aperitivos consumidos pelas dez pessoas envolvidas custaram ao seu bolso cerca de R$ 300. "Paguei para pararem de me amolar", conta. "Quem não participa fica malvisto, há a impressão de que a pessoa não sabe levar as coisas na brincadeira", completa.
Das pressões a que o funcionário está sujeito em sua empresa, a social é uma das mais delicadas, explica Wimer Bottura Jr., psiquiatra da Associação Paulista de Medicina.
"É uma cobrança interna. Por medo de perder o emprego, o profissional cede a essas pressões e, com o tempo, apresenta distúrbios psicossomáticos relacionados à raiva e ao medo."
Para Márcio Zenker, 60, psicólogo especializado em recursos humanos, o medo de ser rejeitado socialmente é a principal razão que leva as pessoas a cederem a esse tipo de pressão.
"O funcionário que enfrenta mais problemas é o que está o tempo todo preocupado com a sua imagem diante dos outros", diz. O risco, afirma, às vezes nem mesmo é real -é importante ponderar se o medo de não ser aceito é imaginário.

(Des)integração
Na avaliação de Paulo Celso de Toledo Jr., da LCZ Consultoria, essas situações prejudicam a produtividade. "Mas tudo isso é parte do processo de integração do grupo", ressalva.
Foi com o intuito de integrar os colegas de trabalho que César Félix, 18, passou a organizar festas de aniversário na empresa em que trabalha -cobrando até R$ 20 por pessoa por mês.
A iniciativa, no entanto, teve efeito inverso: criou mais uma obrigação dentre tantas já existentes em seu departamento. "O problemas desses rituais é dar continuidade", comenta.

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