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ENTREVISTA
Advogado deve ser bom estrategista
Todos os dias todo mundo negocia tudo. Faz parte da vida. O direito é uma grande escola de negociação
DA REPORTAGEM LOCAL
O que um estudante precisa
saber antes de optar por cursar
uma graduação em direito?
Pensando nas recomendações que daria a quem quisesse
se arriscar na tradicional profissão, o advogado especialista
em direito societário Francisco
Müssnich aborda em seu livro
"Cartas a um Jovem Advogado"
temas que costumam inquietar
pessoas em início de carreira.
Constam do livro suas opiniões sobre o exame da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil), a área mais promissora da
carreira, a importância do voluntariado, a melhor formação.
"Quando escrevi o livro, o fiz
para quem ainda vai entrar ou
está na faculdade", conta.
Francisco Müssnich esteve
envolvido em grandes causas,
como a aquisição da Copene e a
posterior criação da Braskem, a
compra do Pactual pelo banco
suíço UBS e a reestruturação da
Mesbla. Também é o advogado
contratado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para participar de toda a estrutura jurídica da Copa de 2014.
Para entrevistá-lo, a Folha
convidou três jovens ligados à
advocacia, que leram o livro e
elaboraram questões ao autor.
São eles: Geovani Santos, 23,
graduado em direito pela Universidade Estácio de Sá e assistente jurídico do Bradesco;
Leonardo Martins, 31, estudante de direito no Instituto
Metodista Bennett e estagiário
do escritório Gaia & Peres; e
Fernando Arruda, 24, bacharel
em direito pela Fundação Armando Álvares Penteado.
(ANDRESSA ROVANI)
LEONARDO MARTINS - Concordo
quando o sr. afirma que o advogado
tem de ser versado em teatro, pôquer e engenharia. Mas como desenvolver essas qualidades quando
se é "prisioneiro" do escritório?
FRANCISCO MÜSSNICH - Recomendo qualquer jogo que necessite
de estratégia. Por mais que você se mate trabalhando, deveria
ter tempo disponível.
Negocie isso com seu chefe e
aguarde os períodos de calmaria no escritório para apostar
em sua formação.
GEOVANI SANTOS - Em um capítulo,
o sr. comenta que considera uma
"obrigação moral do advogado contribuir para construir uma sociedade
melhor", dedicando parte do tempo
livre à advocacia voluntária. Quais
os critérios que preciso levar em conta para me tornar voluntário?
MÜSSNICH - Observe a instituição: veja como são os dirigentes, quais são seus cargos, quanto eles ganham. Perceba quem
ganha com isso, quem oferece
dinheiro à instituição. Analise a
reputação da entidade. Antes,
porém, é preciso descobrir com
o que você se identifica: criança
carente, auxílio a doentes, ambiente. Muitas vezes, pode ser
um trabalho que aparentemente não esteja ligado à profissão.
FERNANDO ARRUDA - Em seu livro,
notamos um estilo "agressivo" em
assembléias de acionistas. No mercado de capitais atual, tão preocupado com princípios de governança
corporativa, ainda há espaço para
esse tipo de abordagem?
MÜSSNICH - Estilo agressivo é
uma resposta àquilo que já começou a impedir sua ação. É
uma resposta. Hoje, as assembléias pedem uma atuação
mais breve ou mais agressiva.
Mas isso não é regra. Avalie o
seu trabalho e escolha a melhor
forma de ação nesse contexto.
ARRUDA - Em vários momentos do
livro, o sr. cita que o jovem nunca deve parar de estudar. É melhor um fazer um MBA ou um mestrado?
MÜSSNICH - Depende de sua visão para curto e médio prazos.
Um MBA melhora seu rendimento "on the job", tem uma
resposta mais imediata. O que
você quer ser: corredor de 100
metros rasos ou de maratona?
MBA é mais superficial e
atende às necessidades do momento. O mestrado tem um
perfil mais aprofundado e resultados a médio prazo.
MARTINS - O sr. menciona que o
exame da OAB é um importante filtro para selecionar os advogados.
Entretanto, percebemos que uma
série de profissionais com deficiências de conhecimento ainda são
aprovados. Considera o atual formato do exame satisfatório?
MÜSSNICH - A unificação das datas das provas é um grande
avanço. É preciso que haja provas discursivas, avaliações
orais. Combinar critérios mais
exigentes para testar o conhecimento efetivo do recém-formado. Deveria haver bancas
mais severas, com um foco
mais em língua portuguesa.
FOLHA - Mas hoje o índice de aprovação do teste é muito pequeno.
Provas mais rígidas não afunilariam
esse escopo ainda mais?
MÜSSNICH - Se o estudante faz
dois anos de cursinho, passa.
Isso não quer dizer necessariamente que ele absorveu o conhecimento jurídico completo.
SANTOS - No livro, o direito societário é citado como uma área promissora. Quais seriam as outras?
MÜSSNICH - Uma delas é arbitragem. Direito econômico, devido às grandes fusões entre
empresas e mudanças empresariais, também é promissor.
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