São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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ENTREVISTA

Advogado deve ser bom estrategista

Todos os dias todo mundo negocia tudo. Faz parte da vida. O direito é uma grande escola de negociação

DA REPORTAGEM LOCAL

O que um estudante precisa saber antes de optar por cursar uma graduação em direito?
Pensando nas recomendações que daria a quem quisesse se arriscar na tradicional profissão, o advogado especialista em direito societário Francisco Müssnich aborda em seu livro "Cartas a um Jovem Advogado" temas que costumam inquietar pessoas em início de carreira.
Constam do livro suas opiniões sobre o exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a área mais promissora da carreira, a importância do voluntariado, a melhor formação.
"Quando escrevi o livro, o fiz para quem ainda vai entrar ou está na faculdade", conta.
Francisco Müssnich esteve envolvido em grandes causas, como a aquisição da Copene e a posterior criação da Braskem, a compra do Pactual pelo banco suíço UBS e a reestruturação da Mesbla. Também é o advogado contratado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para participar de toda a estrutura jurídica da Copa de 2014.
Para entrevistá-lo, a Folha convidou três jovens ligados à advocacia, que leram o livro e elaboraram questões ao autor.
São eles: Geovani Santos, 23, graduado em direito pela Universidade Estácio de Sá e assistente jurídico do Bradesco; Leonardo Martins, 31, estudante de direito no Instituto Metodista Bennett e estagiário do escritório Gaia & Peres; e Fernando Arruda, 24, bacharel em direito pela Fundação Armando Álvares Penteado.
(ANDRESSA ROVANI)



LEONARDO MARTINS - Concordo quando o sr. afirma que o advogado tem de ser versado em teatro, pôquer e engenharia. Mas como desenvolver essas qualidades quando se é "prisioneiro" do escritório?
FRANCISCO MÜSSNICH
- Recomendo qualquer jogo que necessite de estratégia. Por mais que você se mate trabalhando, deveria ter tempo disponível. Negocie isso com seu chefe e aguarde os períodos de calmaria no escritório para apostar em sua formação.

GEOVANI SANTOS - Em um capítulo, o sr. comenta que considera uma "obrigação moral do advogado contribuir para construir uma sociedade melhor", dedicando parte do tempo livre à advocacia voluntária. Quais os critérios que preciso levar em conta para me tornar voluntário?
MÜSSNICH
- Observe a instituição: veja como são os dirigentes, quais são seus cargos, quanto eles ganham. Perceba quem ganha com isso, quem oferece dinheiro à instituição. Analise a reputação da entidade. Antes, porém, é preciso descobrir com o que você se identifica: criança carente, auxílio a doentes, ambiente. Muitas vezes, pode ser um trabalho que aparentemente não esteja ligado à profissão.

FERNANDO ARRUDA - Em seu livro, notamos um estilo "agressivo" em assembléias de acionistas. No mercado de capitais atual, tão preocupado com princípios de governança corporativa, ainda há espaço para esse tipo de abordagem?
MÜSSNICH
- Estilo agressivo é uma resposta àquilo que já começou a impedir sua ação. É uma resposta. Hoje, as assembléias pedem uma atuação mais breve ou mais agressiva. Mas isso não é regra. Avalie o seu trabalho e escolha a melhor forma de ação nesse contexto.

ARRUDA - Em vários momentos do livro, o sr. cita que o jovem nunca deve parar de estudar. É melhor um fazer um MBA ou um mestrado?
MÜSSNICH
- Depende de sua visão para curto e médio prazos. Um MBA melhora seu rendimento "on the job", tem uma resposta mais imediata. O que você quer ser: corredor de 100 metros rasos ou de maratona? MBA é mais superficial e atende às necessidades do momento. O mestrado tem um perfil mais aprofundado e resultados a médio prazo.

MARTINS - O sr. menciona que o exame da OAB é um importante filtro para selecionar os advogados. Entretanto, percebemos que uma série de profissionais com deficiências de conhecimento ainda são aprovados. Considera o atual formato do exame satisfatório?
MÜSSNICH
- A unificação das datas das provas é um grande avanço. É preciso que haja provas discursivas, avaliações orais. Combinar critérios mais exigentes para testar o conhecimento efetivo do recém-formado. Deveria haver bancas mais severas, com um foco mais em língua portuguesa.

FOLHA - Mas hoje o índice de aprovação do teste é muito pequeno. Provas mais rígidas não afunilariam esse escopo ainda mais?
MÜSSNICH
- Se o estudante faz dois anos de cursinho, passa. Isso não quer dizer necessariamente que ele absorveu o conhecimento jurídico completo.

SANTOS - No livro, o direito societário é citado como uma área promissora. Quais seriam as outras?
MÜSSNICH
- Uma delas é arbitragem. Direito econômico, devido às grandes fusões entre empresas e mudanças empresariais, também é promissor.

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