São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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CINCO HISTÓRIAS


espelho da superação

Fonoaudióloga trata a própria doença e transforma gagueira em diferencial

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sandra Merlo, 29, diz ter sido uma criança quieta, "daquelas que não dão muito trabalho". "Como existe um tabu grande, as pessoas tentam se esconder", conta, sobre a gagueira intensa que a acompanhava.
Foi uma infância, diz, com "bastante dor". O clima em casa não era harmonioso, e ela sofria críticas. "Sentia que não era competente para falar melhor."
Na escola, a situação não era diferente. Os professores a incentivavam a ler textos em voz alta. Acreditavam, considera ela, que a exposição amenizaria a gagueira. Mas, em geral, acontecia o oposto. Merlo ficava ainda mais ansiosa, e a sala, "num silêncio constrangedor".
Aos 14 anos, buscou tratamento no SUS (Serviço Único de Saúde). Não obteve melhora, mas viu ali seu caminho profissional -seria fonoaudióloga.
Um dos primeiros "nãos" veio no teste de aptidão de uma das faculdades em que disputava uma vaga. "Não me aceitaram, argumentando que eu não era modelo para os pacientes."
Ela passou na USP e se mudou de Pato Branco, no Paraná, para a capital paulista. Estudou e fez acompanhamento com uma fonoaudióloga, de forma a tornar leve a gagueira intensa. "Não há cura para os casos crônicos, como o meu", explica.
Graduou-se em 2000, ingressou no mestrado e agora faz doutorado, também sobre a fluência de não-gagos. "Não há muitas pesquisas e é preciso ter base de comparação", afirma.
Atende em uma clínica e venceu o temor de ser discriminada. Hoje diz que a gagueira leve serve até de estímulo aos pacientes. "É um diferencial. Há aqueles que me procuram porque sei pelo que passam."


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