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CINCO HISTÓRIAS
espelho da superação
Fonoaudióloga trata a própria doença e transforma gagueira em diferencial
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sandra Merlo, 29, diz ter sido
uma criança quieta, "daquelas
que não dão muito trabalho".
"Como existe um tabu grande,
as pessoas tentam se esconder", conta, sobre a gagueira
intensa que a acompanhava.
Foi uma infância, diz, com
"bastante dor". O clima em casa
não era harmonioso, e ela sofria
críticas. "Sentia que não era
competente para falar melhor."
Na escola, a situação não era
diferente. Os professores a incentivavam a ler textos em voz
alta. Acreditavam, considera
ela, que a exposição amenizaria
a gagueira. Mas, em geral, acontecia o oposto. Merlo ficava ainda mais ansiosa, e a sala, "num
silêncio constrangedor".
Aos 14 anos, buscou tratamento no SUS (Serviço Único
de Saúde). Não obteve melhora,
mas viu ali seu caminho profissional -seria fonoaudióloga.
Um dos primeiros "nãos"
veio no teste de aptidão de uma
das faculdades em que disputava uma vaga. "Não me aceitaram, argumentando que eu não
era modelo para os pacientes."
Ela passou na USP e se mudou de Pato Branco, no Paraná,
para a capital paulista. Estudou
e fez acompanhamento com
uma fonoaudióloga, de forma a
tornar leve a gagueira intensa.
"Não há cura para os casos crônicos, como o meu", explica.
Graduou-se em 2000, ingressou no mestrado e agora faz
doutorado, também sobre a
fluência de não-gagos. "Não há
muitas pesquisas e é preciso ter
base de comparação", afirma.
Atende em uma clínica e venceu o temor de ser discriminada. Hoje diz que a gagueira leve
serve até de estímulo aos pacientes. "É um diferencial. Há
aqueles que me procuram porque sei pelo que passam."
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