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Análise da cultura estratégica reforça auto-conhecimento
Para acadêmico francês, brasileiros devem aprender com o senso japonês de coletividade
Divulgação
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Pierre Fayard diz que samurais simbolizam a cultura japonesa |
ÓSCAR CURROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Devido às distâncias culturais, até os mais experientes
executivos ocidentais podem se
sentir "perdidos" em viagens a
países como a China e o Japão.
E é essa diferença o principal
assunto explorado pelo professor francês Pierre Fayard em
"O Acordar do Samurai" (Dunod/Polia, 20, 248 páginas).
O livro, que analisa o modo
de trabalho japonês na sociedade do conhecimento, condensa
mais de 20 anos de pesquisa.
"Minha idéia é que é muito
importante explicitar a cultura
estratégica de um país. Ela é algo implícito, tácito", comenta.
Na avaliação de Fayard,
aprender a ler nas entrelinhas
dessas diferentes culturas é um
caminho para o crescimento
-seja individual, seja coletivo.
Veja, a seguir, algumas das
dicas para desvendar as culturas orientais destacadas pelo
autor em entrevista concedida
com exclusividade à Folha.
FOLHA - Como é possível revelar a
cultura estratégica de um país?
PIERRE FAYARD - É necessário
distanciar-se dela e estudar
uma outra que faça contraste.
Por exemplo, nos Estados Unidos, quando há um problema,
faz-se referência à documentação técnica. Já na China, avalia-se o potencial das coisas. No
Brasil, quando há um problema, recorre-se ao "jeitinho".
FOLHA - Quais são as principais diferenças entre o "jeitinho" brasileiro
e a cultura estratégica oriental?
FAYARD - O "jeitinho" é tático.
Ele supõe uma confiança enorme do ator em si mesmo. Um
europeu, quando se vê em uma
situação racionalmente intransponível, desiste. Mas o
brasileiro fica tranqüilo, pois
confia que reverterá a situação.
O que há em comum entre
orientais e brasileiros é a crença de que, com o tempo, tudo
pode melhorar. Isso significa
que o status e as relações de força não perduram para sempre.
Mas também há diferenças,
sobretudo no ritmo: o "jeitinho" pode ser muito rápido,
enquanto a estratégia oriental
precisa de muito tempo.
FOLHA - O que há de comum entre
as culturas chinesa e japonesa?
FAYARD - As duas têm uma visão próxima: o mundo é uma
transformação permanente,
em que o fixo é a mudança.
Para pensar as diferenças, há
duas figuras emblemáticas: o
mandarim e o samurai. O mandarim é um letrado, um sábio a
serviço do império chinês. O
objetivo desse funcionário é
mais político: manter a união, o
equilíbrio e a harmonia, para
não provocar revoluções.
Já o samurai é um guerreiro
que está totalmente a serviço
de seu mestre. E, para isso, tem
de se aperfeiçoar continuamente, com grande auto-exigência. Ele considera que seu
caminho natural é a morte.
FOLHA - No Japão, conserva-se a
cultura do trabalho tradicional?
FAYARD - A situação está mudando um pouco, mas o sentido
de coletividade se mantém.
A sociedade japonesa é uma
espécie de família, em que o coletivo dá sentido às individualidades. No cartão pessoal de um
japonês, primeiro aparece o
próprio país. Depois, o nome da
empresa, o setor, até chegar ao
nome da pessoa.
FOLHA - Quais são as mudanças
trazidas pela sociedade do conhecimento àquele país?
FAYARD - Como algo novo, começa-se a insistir na importância da atividade individual: o
jeito mais pessoal de desenvolver o trabalho reforça o grupo.
O importante não é apenas a
gestão da informação -mas
sua transformação em conhecimento. Toda a coletividade se
beneficia, pois essa prática faz
com que a cultura japonesa se
atualize continuamente.
Já entre ocidentais é diferente. O indivíduo procura no grupo seu próprio fortalecimento.
FOLHA - O sr. diz que os japoneses
aproveitam as tecnologias para
constituir comunidades de conhecimento. Isso seria possível no Brasil?
FAYARD - Uma comunidade estratégica de conhecimento precisa de interações a serviço de
um objetivo comum. O Brasil é
um país muito individualista,
onde há muito entusiasmo. As
pessoas poderiam colaborar
em uma tarefa coletiva. No entanto, é preciso sempre levar
em conta diferenças regionais.
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