São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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VIDAS SEM RUMO

Jovens esbarram em exigências

Desemprego é crescente entre novatos, que "travam" na falta de experiência e qualificação

Leonardo Wen/Folha Imagem
O estudante Lincoln de Souza Teixeira, que está desempregado


CRISTIANE ALVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Contra-senso. Para muitos jovens de 16 a 24 anos, não há palavra mais adequada que defina as dificuldades por eles enfrentadas ao tentar ingressar no mercado formal de trabalho.
A experiência como requisito em oposição à pouca idade dos candidatos e à escassez de vagas é o primeiro impedimento.
Acrescenta-se à lista a qualificação obrigatória em contraposição à baixa renda dos que procuram emprego justamente para ter como pagar os estudos.
"Eles [os empregadores] exigem muitos cursos e boa aparência", resume o estudante Lincoln de Souza Teixeira, 16.
Ansioso por sua estréia no ambiente profissional, Teixeira compõe o retrato típico dos que fazem parte das estatísticas do desemprego juvenil no Brasil.
Entre 1995 e 2005, de cada 100 jovens com idade para ingressar no mercado de trabalho, apenas 45 encontraram uma ocupação -os demais permaneceram desempregados.
Os números fazem parte da análise divulgada em fevereiro pelo professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Marcio Pochmann.
No período, a taxa nacional de desemprego entre os jovens variou de 11,4%, em 1995, para 19,4% da PEA (População Economicamente Ativa), em 2005. Um incremento de 70% -bem superior aos 44% registrados para o restante da população.
A ineficácia de políticas públicas para o primeiro emprego ajuda a explicar esse cenário.
Estimativa da DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho), por exemplo, demonstra que 40% das organizações ainda não cumprem a Lei do A-prendiz, sancionada em 2000. Pela lei, jovens com idade entre 14 e 24 anos devem representar de 5% a 15% dos funcionários de médias e grandes empresas.
"É muito difícil entrar no mercado de trabalho. Ainda mais para quem não completou 18 anos", conclui Teixeira a partir de sua rotina de entregar currículos em firmas de Osasco, na Grande São Paulo.
Ele cursa o ensino médio e tem diploma de informática. Mas seu maior obstáculo, diz, é o fato de estar em idade de alistamento para o serviço militar.
Enquanto não consegue uma oportunidade formal, faz "bicos" com o avô, ajudando-o a fazer entregas para transportadoras. É uma forma de contribuir com a família -de seis pessoas-, já que a principal renda, de R$ 640, vem da aposentadoria por invalidez da mãe, que sofreu acidente de trabalho.

Agir por necessidade
A situação está difícil até para quem já acumula experiências profissionais no currículo.
É o que atesta o estudante Diego Fernandes Francisco, 20, que não consegue uma oportunidade mesmo tendo trabalhado por quase dois anos.
Enquanto procura um emprego, ele faz "bicos" como pedreiro e pintor. "É um trabalho pesado, mas não tem problema. Se não trabalho, fico sem comer", afirma Francisco, que vive com cinco pessoas e uma renda familiar de R$ 1.500.
Tanto Francisco como Teixeira compartilham da necessidade de seguir batalhando até encontrar uma oportunidade, não importa qual seja a função.
"Não paro para pensar nas dificuldades. Se fizer isso, ficarei revoltado. Tenho de agir, de me virar", comenta Teixeira.


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