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VIDAS SEM RUMO
Jovens esbarram em exigências
Desemprego é crescente entre novatos, que "travam" na falta de experiência e qualificação
Leonardo Wen/Folha Imagem
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O estudante Lincoln de Souza Teixeira, que está desempregado |
CRISTIANE ALVES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Contra-senso. Para muitos
jovens de 16 a 24 anos, não há
palavra mais adequada que defina as dificuldades por eles enfrentadas ao tentar ingressar
no mercado formal de trabalho.
A experiência como requisito
em oposição à pouca idade dos
candidatos e à escassez de vagas é o primeiro impedimento.
Acrescenta-se à lista a qualificação obrigatória em contraposição à baixa renda dos que
procuram emprego justamente
para ter como pagar os estudos.
"Eles [os empregadores] exigem muitos cursos e boa aparência", resume o estudante
Lincoln de Souza Teixeira, 16.
Ansioso por sua estréia no
ambiente profissional, Teixeira
compõe o retrato típico dos que
fazem parte das estatísticas do
desemprego juvenil no Brasil.
Entre 1995 e 2005, de cada
100 jovens com idade para ingressar no mercado de trabalho, apenas 45 encontraram
uma ocupação -os demais permaneceram desempregados.
Os números fazem parte da
análise divulgada em fevereiro
pelo professor da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) Marcio Pochmann.
No período, a taxa nacional
de desemprego entre os jovens
variou de 11,4%, em 1995, para
19,4% da PEA (População Economicamente Ativa), em 2005.
Um incremento de 70% -bem
superior aos 44% registrados
para o restante da população.
A ineficácia de políticas públicas para o primeiro emprego
ajuda a explicar esse cenário.
Estimativa da DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho),
por exemplo, demonstra que
40% das organizações ainda
não cumprem a Lei do A-prendiz, sancionada em 2000. Pela
lei, jovens com idade entre 14 e
24 anos devem representar de
5% a 15% dos funcionários de
médias e grandes empresas.
"É muito difícil entrar no
mercado de trabalho. Ainda
mais para quem não completou
18 anos", conclui Teixeira a
partir de sua rotina de entregar
currículos em firmas de Osasco, na Grande São Paulo.
Ele cursa o ensino médio e
tem diploma de informática.
Mas seu maior obstáculo, diz, é
o fato de estar em idade de alistamento para o serviço militar.
Enquanto não consegue uma
oportunidade formal, faz "bicos" com o avô, ajudando-o a
fazer entregas para transportadoras. É uma forma de contribuir com a família -de seis pessoas-, já que a principal renda,
de R$ 640, vem da aposentadoria por invalidez da mãe, que
sofreu acidente de trabalho.
Agir por necessidade
A situação está difícil até para
quem já acumula experiências
profissionais no currículo.
É o que atesta o estudante
Diego Fernandes Francisco,
20, que não consegue uma
oportunidade mesmo tendo
trabalhado por quase dois anos.
Enquanto procura um emprego, ele faz "bicos" como pedreiro e pintor. "É um trabalho
pesado, mas não tem problema.
Se não trabalho, fico sem comer", afirma Francisco, que vive com cinco pessoas e uma
renda familiar de R$ 1.500.
Tanto Francisco como Teixeira compartilham da necessidade de seguir batalhando até
encontrar uma oportunidade,
não importa qual seja a função.
"Não paro para pensar nas
dificuldades. Se fizer isso, ficarei revoltado. Tenho de agir, de
me virar", comenta Teixeira.
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