São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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VIDAS SEM RUMO

Novatos procuram ONGs para se firmar como profissionais

Na falta de apoio escolar, especialistas apontam as entidades como caminho para expandir horizontes

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O contato com o trabalho de uma ONG (organização não-governamental) pode fazer a diferença para que parte dos jovens não desista de procurar um emprego e permaneça na luta para ganhar algum dinheiro sem cair na marginalidade.
É o caso de Leandro Lopes, 18, que participa das ações educacionais da Associação Eremim, em Osasco, desde 1999.
Ele começou a trabalhar menino, aos oito anos de idade. Já cuidou de carros em estacionamentos, trabalhou em ferro-velho, lava-rápidos e gráficas e ajudou a descarregar caminhões na Ceagesp de São Paulo.
Conviveu com a exploração, como no primeiro lava-rápido em que trabalhou, onde o proprietário lhe pagava a quantia de R$ 0,50 por automóvel lavado. Também afirma ter sofrido "preconceito e violência".
Apesar de tudo, nunca parou de estudar e de ter na entidade uma referência. "Para mim, o Eremim foi o alicerce. Na hora que estava na corda bamba, desistindo, ele me alinhava", diz.
Hoje, Lopes é atendente da ONG e vive com uma renda familiar de cerca de R$ 400, somado o dinheiro que o pai consegue como borracheiro.
O estudante Antonio Ulisses de Moura Sousa, 20, também percebeu mudanças nas suas atitudes a partir do contato com entidades como essa. "Passei a identificar meu valor e meus direitos perante a sociedade", diz ele, que é monitor do Instituto Criar de TV e Cinema.
Ambos são exemplos de jovens que aprenderam a confiar em seu potencial. "Essas organizações civis ajudam as pessoas a ver que existem possibilidades. Vai contra o discurso hegemônico que [diz que elas] não existem", afirma o professor da USP Marcelo Ribeiro.
Para a coordenadora de juventude do Superação Jovem, Sônia André, as ONGs ensinam ao jovem a ser co-responsável pela sua formação. Mas essa lição, afirma, "também deveria ser aprendida nas escolas".
"Há, no ensino médio, um divórcio entre educação e trabalho", explica. "O sistema educacional deveria contribuir para o desenvolvimento de competências como interpretação de textos, trabalho em equipe, gestão e autoconhecimento."


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