São Paulo, domingo, 25 de março de 2007

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Diversidade é diferencial competitivo

Para especialista no tema, empresas brasileiras ainda devem aprender a lidar com inclusão

ANDRES TAPIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Diversidade e inclusão podem significar coisas diferentes para pessoas diferentes ao redor do mundo. No meu trabalho global de diversidade, seja na América Latina, seja na Europa, no Canadá, na Índia ou nos Estados Unidos, tenho utilizado a seguinte definição: "Diversidade é o "mix", inclusão é fazer esse "mix" funcionar".
Desse modo, cada local pode definir o que o "mix" significa e se está funcionando ou não.
Nos Estados Unidos, ele pode ser definido como sendo algo sobre raça, sexo, deficiência física ou orientação sexual.
Na Índia, raça não consta dessa lista -os itens mais proeminentes são religião, casta e região geográfica.
No caso do Brasil, a lista parcial traz sexo, raça, gerações, regiões nacionais ou globais e deficiência. É esse o panorama que procuro detalhar a seguir.

Mulheres
As mulheres estão [em massa] no mercado de trabalho há uma ou duas gerações. Em muitos lugares, vemos um balanço de 50% a 50% nessa mistura. Mas esse "mix" está funcionando? Qual a representatividade delas no nível executivo? Não é segredo que o tratamento "igualitário" não atinge esses níveis. Chegar lá é tortuoso. As mulheres estão sendo pagas como os homens ao realizar o mesmo tipo de trabalho? Muitos artigos publicados na América Latina -e o Brasil não é uma exceção- identificam um pagamento desigual.

Diversidade regional
A rivalidade bem conhecida entre paulistas e cariocas -e como muitos deles olham para os que vêm do interior do país- gera improdutividade dentro do ambiente de trabalho. Em discussão recente, um grupo de funcionários de Minas Gerais me explicou como seu moral é afetado por sentirem certas atitudes de superioridade de colegas e clientes das grandes cidades. Isso afeta a produtividade do conjunto.

Diversidade global
Na medida em que as multinacionais brasileiras continuam a espalhar seu alcance global, aumentam a diversidade que terão de enfrentar e os desafios culturais, assim como os encontrados há décadas por norte-americanos e europeus. A regionalização do trabalho corporativo na América Latina está trazendo à tona diferenças culturais entre profissionais do Brasil e de países como o México, a Argentina e a Nicarágua.

Pessoas com deficiência
As empresas enfrentam alguns problemas com a legislação recente que exige que tenham um percentual mínimo de funcionários com necessidades especiais. Elas olham para um problema de infra-estrutura, como o fato de seus prédios não oferecerem acesso a cadeiras de rodas. As empresas declaram ainda que não há profissionais com a competência desejada para preencher suas vagas. Algumas empresas, contudo, têm uma área de responsabilidade social e são proativas no desenvolvimento dessas pessoas antes de contratá-las. Outras estão descobrindo alternativas para recebê-las e para qualificá-las.

A geração digital
Esta geração desafiará a tradicional estrutura de trabalho. Vejo minha filha de 15 anos. Ela faz seus trabalhos de escola no laptop sem fio, pesquisa na internet, tem seis chats abertos ao mesmo tempo, grava CDs para ouvir música e fala ao telefone -tudo ao mesmo tempo. Eu me pergunto se isso é possível. Ela diz que sim e tira notas boas. Em cinco anos, quando a geração dela entrar no mercado de trabalho, as pessoas não estarão prontas para lidar com suas expectativas, que serão bem diferentes.

Diversidade racial
Esse aspecto é, ao mesmo tempo, o mais e o menos óbvio no Brasil. Há contradições sobre essa questão no país. Há opiniões que indicam que isso ainda é um problema e outras dizem que é assunto resolvido. Existe um debate crescente sobre o lugar dos negros e se eles têm oportunidades iguais de educação e de trabalho. Baseado no meu trabalho global, se um assunto da diversidade é tido como problema, é uma indicação de que a questão está longe de ser resolvida. Assim como no caso das pessoas com necessidades especiais, neste será preciso uma combinação de fatores, todos dirigidos por uma política social por parte do governo e pelo comprometimento estratégico por parte das corporações.

Impacto dos negócios
Um número crescente de funcionários latino-americanos declara que a diversidade, junto com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, é um fator fundamental na atração de um ou outro empregador. No estudo "Melhores Empregadores da América Latina 2005/2006", da Hewitt, uma das cinco qualidades do melhor empregador era o comprometimento com esses tópicos. Questões de diversidade e inclusão são complexas, mas, para as empresas que sabem lidar com isso, a recompensa será uma vantagem competitiva primeiro para sobreviver e depois para prosperar em um mercado global cada vez mais difícil.


Andres Tapia é chefe mundial de diversidade da consultoria Hewitt Associates


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