São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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CARREIRA TÉCNICA/CIENTÍFICA

Perfil administrador é aliado de primazia da formação técnica

Iniciativa privada admite característica de gerente; setor público exige doutorado e foco no longo prazo

MARIANA IWAKURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para uma trajetória ascendente em desenvolvimento de tecnologia e pesquisa aplicada, o básico é a excelência técnica. Mas preencher apenas esse requisito não é suficiente.
Competitividade, comunicação e liderança são algumas das características desejadas pelo mercado que, muitas vezes, distanciam esse profissional do padrão introspectivo e exigem mais habilidades gerenciais.
Antonio Ferreira, 40, foi promovido recentemente a gerente nacional de desenvolvimento de tecnologia da Monsanto -o que, diz ele, triplicará a parte administrativa de seu trabalho e reduzirá funções técnicas.
Engenheiro agronômico e mestre em genética de plantas, Ferreira avalia que sua habilidade para lidar com pessoas, adquirida no contato com o produtor agrícola, valorizou-se. "Liderança é fundamental. É preciso ter empatia, dar "feedback", auxiliar", explica.
Para Rafael Van Selow, gerente da divisão de TI da Michael Page, as empresas esperam um profissional que se comunique com outras áreas. "Como há muita terceirização, ele precisa saber negociar com outras empresas", pontua.
Mestrado e doutorado, na iniciativa privada, são raros -os MBAs tendem a complementar a formação. Já em universidades e institutos de pesquisa do governo -em que o ingresso é feito por concurso público-, predominam doutores.
As diferenças entre iniciativa privada e instituições públicas por vezes se estendem ao foco das pesquisas: a indústria exige resultados bem mais rápidos. As públicas têm mais tempo, como exemplifica o diretor-presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Silvio Crestana: "Tecnologias de impacto na agricultura levam até dez anos desde a idéia até a venda".
A escolha pela carreira em instituição pública esbarra em algumas dificuldades. "Pelo lado financeiro, a carreira de pesquisa não compete com emprego em engenharia", avisa Carlos Emanuel de Souza, pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica.
Alguns sacrifícios também serão pedidos. O vice-diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), Wanderli Tadei, sentiu isso na pele: "Já peguei malária oito vezes. Somos parte do experimento".
Administrar a própria firma é uma opção para o profissional de perfil técnico/científico -desde que se adapte à função. Jorge Alberto Reis, 41, está no fim do doutorado, já foi docente e é atualmente diretor-presidente da Ingresso.com. Hoje seu foco é a empresa: "Quero diversificar o mercado. O futuro é vender pelo celular".
Os fundadores da Alellyx, empresa de biotecnologia, vieram da academia. Segundo Jesus Ferro, diretor científico, no início, houve dificuldades para transformar cientistas em gestores de empresa. "Precisamos ver o potencial de retorno financeiro de cada negócio. Nunca tínhamos feito isso", diz.


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