São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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ASSÉDIO MORAL

Dados da DRT-SP indicam que 66% dos assediados são mulheres; vítimas enfrentam doenças psíquicas

Denúncia contra empregador cresce 5,7%

LARA SILBIGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A incidência de acusações de assédio moral no Estado de São Paulo aumentou 5,7% em 2005 em relação ao ano anterior.
No ano passado, a DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho) recebeu 242 queixas de assédio moral, segundo o Núcleo de Promoção da Igualdade de Oportunidade e de Combate à Discriminação no Trabalho, ligado à instituição. Cerca de dois terços dos reclamantes eram mulheres.
Uma delas é a pesquisadora universitária Marcela (nome fictício), 51, que, durante 11 anos, viu-se obrigada a conviver com crises de choro e depressão. Inferiorizada pelo chefe, diz ter ouvido frases como: "Trato você pior do que um cachorro".
Além de passar por "cenas humilhantes", também promovidas por uma colega, Marcela conta que teve de realizar tarefas que nada tinham a ver com a função para a qual havia sido contratada. "Colocavam-me para lavar tanques de água em local insalubre."
A pesquisadora afirma que, com o tempo, tornou-se insegura. "Hoje, ao vivenciar situações estressantes, choro, tenho hiperventilação e minha pressão arterial oscila bruscamente", diz.
Doenças, aliás, são um dos riscos invisíveis do assédio moral. Na avaliação da médica do trabalho Margarida Barreto, os primeiros sintomas são choro, insegurança, ansiedade, baixa auto-estima e sensibilidade excessiva.
O passo seguinte é o desenvolvimento de enfermidades psíquicas, entre as quais a depressão, o estresse patológico e as síndromes do pânico e de "burnout", sendo esta "uma das mais perigosas". "O paciente atinge um estágio tal de desesperança que pensa em tirar a própria vida", alerta Barreto.
Foi o que aconteceu com João (nome fictício), 47, que afirma ser vítima do assédio moral exercido pelo superior direto há três anos. "Quando ele não me trata com indiferença, dirige-se a mim com agressividade e rispidez. Suas ordens são confusas e contraditórias. Acabo sentindo culpa e insegurança mesmo nas tarefas mais simples de serem realizadas", diz.
"Penso nisso de forma doentia, a ponto de conseguir dormir só três horas por noite", comenta. "Estou depressivo, já pensei várias vezes em suicídio. Engordei mais de 50 quilos desde que entrei nesta firma, há quase cinco anos."
Para João, a empresa cansou-se dele e quer forçar sua saída. Casos como esse, para a procuradora do Ministério Público do Trabalho Valdirene de Assis, são comuns. "O objetivo de quem pratica o assédio moral é atingir a honra, a imagem e a integridade psíquica do empregado. Em agonia extrema, ele pede demissão, satisfazendo a intenção da firma de não arcar com os gastos da dispensa".

Diferenças por sexo
Segundo especialistas, as manifestações de assédio moral contra profissionais do sexo feminino não são iguais às praticadas contra homens.
"Em relação às trabalhadoras, são comuns piadas grosseiras, intimidação, submissão a qualquer ordem e comentários sobre a aparência. No caso dos homens, a tática consiste em promover o isolamento e fazer comentários sobre sua virilidade, capacidade de trabalhar e de manter a família", explica a advogada especializada na área trabalhista Mara Darcanchy.


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