São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Gerações têm demandas diferentes na área de saúde


Mais velhos preferem quantificação de benefícios, e jovens, qualidade de vida


RICARDO AUGUSTO LOBÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em estudo recente sobre as tendências para os próximos anos no desenvolvimento das carreiras, dois aspectos em particular chamaram a atenção.
Primeiro, comentou-se sobre o encontro de gerações que ocorrerá nas empresas nos próximos anos -impondo uma situação inédita e desafiadora para os RHs.
Será preciso instituir novas e diversas formas de comunicação para propagar, efetivamente, os conceitos que as organizações querem transmitir a seu público, seja para informar sobre suas políticas, seja para notificar as regras de conduta e os benefícios.
E, quando falamos de benefícios, especialmente o de saúde e o odontológico, criam-se paralelos interessantes, pois, focando o mesmo objetivo, as respostas dos grupos poderão ser inversas ao que se espera.
As companhias têm feito um esforço adicional nos últimos anos para desenvolver formas de comunicação que consigam estabelecer um canal claro para falar de saúde.
Muitas, porém, não consideram as diferentes gerações, sobretudo pelo fato de focarem seus canais e conteúdos no benefício em estado bruto, e não na formação de uma cultura de saúde.
Quando consideramos, por exemplo, as gerações X e Y [a primeira formada por trabalhadores entre 30 e 40 anos; a segunda, por nascidos entre os anos de 1980 e 1990], temos profissionais preocupados com a quantificação do benefício disponível (X) de um lado e com a qualidade de vida (Y) de outro. Ambos, contudo, buscam utilizar o benefício em detrimento de melhorar ou manter sua condição de saúde.

Dificuldade
O desafio de transformar um utilizador em consumidor de saúde se intensifica quando verter os mais jovens para esse contexto torna-se essencial.
É o caso dos profissionais da geração Y, preocupados com a qualidade de vida, mas em forma de mais tempo para desenvolver outras atividades, como hobbies, e não de cuidado necessário com a sua saúde.
Análises efetuadas nos bancos dos programas de saúde das empresas, em sua maioria, apontam uma baixa utilização nos procedimentos de prevenção nas faixas etárias até 35 anos, ficando evidente o seu uso em situações pontuais, como cirurgias pós-traumáticas ou gravidez, mas com baixa aderência aos modelos de manutenção ou à melhora da condição de saúde.
Haverá aqueles que se prevenirão por meio da realização de checkups anuais, grande parte patrocinada pelas empresas. Muitos deles, porém, reconhecem não seguir as recomendações dadas nesses atendimentos ou retornar ao médico em caso de novas ocorrências.

Custos
As empresas nem sempre percebem um aumento da incidência de procedimentos nas utilizações. Notam, contudo, um reflexo muito mais impactante nos custos, visto que, havendo a utilização pontual, os usuários não exercem algumas funções principais do "consumerismo", ou seja, o questionamento e a investigação mais aprofundada dos eventos.
Ao longo dos anos, esse padrão de utilização ficará tão latente nos usuários, que, independentemente de a qual geração pertençam, será necessária uma mudança muito abrangente na maneira de gerenciar, comunicar e, até mesmo, auxiliá-los na tomada de decisão.
O papel da empresa não será mais o de simples provedor de acesso e o de gerenciador de demandas dos programas. Passará a ser o de influenciador e o de referência na forma de acessar e utilizar os modelos.
Essa nova situação tende a ser mais aderente à geração Y, por sua visão mais voltada à qualidade de vida, e mais desafiadora na geração X, que sofre grande influência do modelo de saúde que implantamos -no qual as empresas reafirmam a quantificação do benefício.

Comunicação
Como sabemos, os modelos de comunicação influenciam de maneira direta a utilização. Eles são baseados, principalmente, no incentivo ao uso -mesmo que muitas vezes indiscriminado (com foco no benefício) e direcionados à nova geração, que não demonstra priorizar a manutenção ou melhoria de sua condição de saúde, mas descreve como fundamental a qualidade de vida.
As empresas terão muito trabalho no futuro para gerenciar seus programas e criar engajamento dos profissionais aos seus modelos de saúde.
Se as companhias buscarem uma gradativa adequação desses modelos -tornando-os mais atuantes no auxílio à tomada de decisão dos grupos, com linguagens próprias e direcionadas a criarem potenciais consumidores de saúde-, poderão evitar os atuais comportamentos.
Ou seja, em vez de se dedicarem ao gerenciamento de benefícios, poderão estimular uma cultura de saúde e interagir com ambas as gerações.

RICARDO AUGUSTO LOBÃO é consultor sênior da Towers Watson, empresa especializada em benefícios



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