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DIPLOMA DISTANTE
Unifesp não abre processo há quatro anos; USP dificultou acesso a pedido
Título estrangeiro "congela" exercício da profissão no país
ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudar no exterior atrai os
brasileiros não só pela oportunidade da experiência internacional como também pela idéia
de que um diploma estrangeiro
tem poder de impulsionar a
carreira na volta ao país.
Exercer a profissão em terras
brasileiras, porém, pode levar
mais tempo que o imaginado.
Passada a fronteira, um entrave
deve ser encarado pelo profissional: a necessidade de ter seu
diploma validado no país.
Elaine Chun, 23, enfrenta essa via-crúcis (conheça o trajeto
ao lado). Formada em nutrição
pela Universidade de Notting-ham, na Inglaterra, ela não sabe
quanto tempo levará para colocar o saber em prática.
"Fui estudar fora achando
que teria uma vantagem [no
mercado de trabalho], mas hoje
não tenho nada", conta ela, que,
ao procurar a USP, diz ter ouvido que "seria muito difícil porque o processo era complicado
para a área de saúde".
Agora, Chun aguarda a resposta de outra universidade
pública para a qual se candidatou há dois meses, depois de
gastar cerca de R$ 2.000 com o
processo. "Foi complicadíssimo", conta. Se precisar cursar
disciplinas adicionais, terá de
se deslocar para o interior do
Estado. "Estou desiludida", diz.
Apesar de haver uma resolução que aponta seis meses como período máximo para avaliar a documentação, as universidades, em geral, levam um
prazo maior -o que pode fazer
com que um médico, por exemplo, leve anos até começar a
exercer de fato a profissão.
Universidades
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) não oferece
validação de diploma estrangeiro há quatro anos. Segundo a
instituição, a não-abertura se
deve ao fato de o governo exigir
que elas acolham como alunos
seus os candidatos que
tiverem o pedido negado.
Já a USP endureceu, a partir
de 2003, o acesso ao processo
para filtrar os candidatos, que
"vinham do país todo", informa
Osvaldo Bueno de Moraes, diretor da divisão de registros
acadêmicos da universidade.
Em 2005, a USP recebeu 220
pedidos para o exame de diplomas, sendo 174 de pós. Só de pedidos de médicos, a Universidade Federal de Mato Grosso avaliou, em 2005, mais de 350.
Qualidade em jogo
Segundo Renato Janine Ribeiro, diretor da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior),
"a preocupação do sistema é
proteger o país de maus profissionais e evitar o prejuízo causado por teses de má qualidade". "E elas abundam", aponta.
Um projeto de lei em tramitação na Câmara pretende facilitar o processo. "Sugiro que o
MEC especifique qual universidade fará o reconhecimento de
determinado curso naquele
ano", explica o autor do projeto,
Paulo Bauer (PSDB-SC).
Daniel Melo Martins, 26, ainda não pôde validar seu diploma, mas já trabalha na área.
Formado em finanças há dois
anos pela Ohio State University, nos EUA, Martins penou
para desvendar a burocracia
brasileira e perdeu, por duas
vezes, o prazo para candidatura
por falta de documentação.
"Acho que [ter um diploma
estrangeiro] pesou a favor ao
ser contratado pela empresa
atual", conta ele, que é trainee
da GE. "Mas se eu dependesse
do diploma?", questiona, acrescentando que teve de adiar o
desejo de voltar a estudar.
Para saber mais sobre validação de
diplomas, acesse o site do MEC
www.mec.gov.br
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