São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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DIPLOMA DISTANTE

Unifesp não abre processo há quatro anos; USP dificultou acesso a pedido

Título estrangeiro "congela" exercício da profissão no país

ANDRESSA ROVANI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudar no exterior atrai os brasileiros não só pela oportunidade da experiência internacional como também pela idéia de que um diploma estrangeiro tem poder de impulsionar a carreira na volta ao país.
Exercer a profissão em terras brasileiras, porém, pode levar mais tempo que o imaginado. Passada a fronteira, um entrave deve ser encarado pelo profissional: a necessidade de ter seu diploma validado no país.
Elaine Chun, 23, enfrenta essa via-crúcis (conheça o trajeto ao lado). Formada em nutrição pela Universidade de Notting-ham, na Inglaterra, ela não sabe quanto tempo levará para colocar o saber em prática.
"Fui estudar fora achando que teria uma vantagem [no mercado de trabalho], mas hoje não tenho nada", conta ela, que, ao procurar a USP, diz ter ouvido que "seria muito difícil porque o processo era complicado para a área de saúde".
Agora, Chun aguarda a resposta de outra universidade pública para a qual se candidatou há dois meses, depois de gastar cerca de R$ 2.000 com o processo. "Foi complicadíssimo", conta. Se precisar cursar disciplinas adicionais, terá de se deslocar para o interior do Estado. "Estou desiludida", diz.
Apesar de haver uma resolução que aponta seis meses como período máximo para avaliar a documentação, as universidades, em geral, levam um prazo maior -o que pode fazer com que um médico, por exemplo, leve anos até começar a exercer de fato a profissão.

Universidades
A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) não oferece validação de diploma estrangeiro há quatro anos. Segundo a instituição, a não-abertura se deve ao fato de o governo exigir que elas acolham como alunos seus os candidatos que tiverem o pedido negado.
Já a USP endureceu, a partir de 2003, o acesso ao processo para filtrar os candidatos, que "vinham do país todo", informa Osvaldo Bueno de Moraes, diretor da divisão de registros acadêmicos da universidade.
Em 2005, a USP recebeu 220 pedidos para o exame de diplomas, sendo 174 de pós. Só de pedidos de médicos, a Universidade Federal de Mato Grosso avaliou, em 2005, mais de 350.

Qualidade em jogo
Segundo Renato Janine Ribeiro, diretor da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), "a preocupação do sistema é proteger o país de maus profissionais e evitar o prejuízo causado por teses de má qualidade". "E elas abundam", aponta.
Um projeto de lei em tramitação na Câmara pretende facilitar o processo. "Sugiro que o MEC especifique qual universidade fará o reconhecimento de determinado curso naquele ano", explica o autor do projeto, Paulo Bauer (PSDB-SC).
Daniel Melo Martins, 26, ainda não pôde validar seu diploma, mas já trabalha na área. Formado em finanças há dois anos pela Ohio State University, nos EUA, Martins penou para desvendar a burocracia brasileira e perdeu, por duas vezes, o prazo para candidatura por falta de documentação.
"Acho que [ter um diploma estrangeiro] pesou a favor ao ser contratado pela empresa atual", conta ele, que é trainee da GE. "Mas se eu dependesse do diploma?", questiona, acrescentando que teve de adiar o desejo de voltar a estudar.
Para saber mais sobre validação de diplomas, acesse o site do MEC www.mec.gov.br


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