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CONQUISTA DE MERCADO
Mulher ganha até 28,5% menos
Discriminação explica menor remuneração entre as deficientes, afirmam especialistas
RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL
A histórica diferença salarial
entre homens e mulheres é ainda mais evidente entre as pessoas com deficiência. Enquanto na população brasileira em
geral mulheres ganham 17,2%
menos que homens, entre
quem tem alguma deficiência a
diferença chega a 28,5%.
A remuneração das mulheres
é inferior em qualquer recorte
-como escolaridade, setor de
atividade ou tipo de deficiência- que se faça nos dados da
Rais 2008 (Relação Anual de
Informações Sociais), elaborada pelo MTE (Ministério do
Trabalho e Emprego).
Em alguns casos, como profissionais com deficiência auditiva, a defasagem entre os gêneros atinge 39%: homens recebem, em média, R$ 2.476,64;
mulheres, R$ 1.507,48.
Entre as hipóteses para explicar a diferença está o preconceito. "É uma dupla discriminação", diz o vice-presidente
do Conade (Conselho Nacional
dos Direitos da Pessoa com Deficiência), Isaías Dias.
"O mercado [de trabalho] como um todo é mais aberto para
o homem", corrobora Márcia
Hipólito, gerente de responsabilidade social da Gelre, empresa de recrutamento e seleção.
Para o coordenador do Programa de Apoio ao Portador de
Necessidades Especiais da UnB
(Universidade de Brasília),
José Roberto Vieira, o tempo
de experiência não explica a
diferença de remuneração.
Homens e mulheres com deficiência, destaca, entraram no
mercado de trabalho com mais
intensidade na década de 1970.
Mas a presença em maior escala vingou a partir de 1991,
com a Lei de Cotas, que prevê
que empresas com cem funcionários ou mais preencham de
2% a 5% dos cargos com pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados.
A secretária estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, Linamara Battistella, discorda da justificativa. Para ela, a defasagem é a
mesma da remuneração das
mulheres sem deficiência há 20
anos. "[As mulheres com deficiência hoje] estão há menos
tempo no mercado."
Battistella pondera que o número de homens com vínculo
formal de trabalho é maior que
o de mulheres -eles somam
207.897, e elas, 115.313, o que,
estatisticamente, pode gerar a
diferença. A concentração em
setores que pagam mais pode
levar à defasagem, diz.
Na chefia
"A inclusão é difícil porque
houve um processo histórico
de exclusão -não só no trabalho", assinala Vilma Leite Machado Amorim, da Coordenadoria Nacional de Promoção de
Igualdade de Oportunidades e
Eliminação da Discriminação
no Trabalho, do Ministério
Público do Trabalho.
"Se for feito um recorte de
dados considerando deficiência, gênero e cor, será possível
notar que as mulheres negras
com deficiência têm remuneração ainda menor", destaca.
Em relação à promoção, o cenário é igual para ambos os sexos. "São tão poucos que, quando estão em cargo de direção,
viram símbolo."
O combate à desigualdade
"depende da visibilidade [do tema] e do enfrentamento judicial e extrajudicial", avalia.
128.617
Foi o número de pessoas com deficiência no setor de serviços em
2008. Foi o segmento que mais
empregou, seguido por indústria
de transformação (91.243) e comércio (46.301)
54%
Foi a diferença na remuneração de homens e mulheres
com deficiência no extrativismo mineral -a maior entre todos os setores em 2008. Eles
receberam R$ 2.028;
elas, R$ 932
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