São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2007

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PROFISSÕES VERDES

Crédito sustentável pede equipe heterogênea

Advogados, biólogos e geólogos analisam os riscos das operações

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O setor bancário foi o primeiro a dar sinal verde às ações de sustentabilidade e a sistematizá-las. "É mais fácil para eles", avalia o professor José Eli da Veiga, da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo). "Para a indústria, é preciso investimento pesado. Em serviços é mais barato. O foco é o treinamento."
Com isso, esse mercado começa a abrir espaço para profissionais com formações que não tinham ponto de contato com as finanças, como advogados, biólogos e psicólogos.
Para aproveitar a brecha é preciso saber como funciona o mercado financeiro e pesquisar muito sobre sustentabilidade. "Quem não é da área de finanças recebe treinamento", diz Carlos Nomoto, superintendente de desenvolvimento sustentável do Banco Real, que valoriza formações heterogêneas "para entender a sustentabilidade de forma mais complexa".
O banco montou um departamento de desenvolvimento sustentável com profissionais de diferentes especialidades, que cuidam de projetos sociais e de estratégias e ferramentas de gestão de sustentabilidade.
No setor de crédito, o banco tem analistas especializados em avaliar aspectos sociais e ambientais do tomador de empréstimo. Quanto mais "sustentavelmente correto" ele for, menores serão os juros. "Temos duas biólogas e uma geóloga no setor", conta Nomoto.
Segundo Veiga, da FEA-USP, muitos de seus alunos de economia foram ou estão indo trabalhar nos setores de sustentabilidade dos bancos.

Produtos verdes
As instituições financeiras também estão atrás de idéias para lançamentos ligados à questão socioambiental. O Bradesco tem 32 produtos da família sustentável, como um financiamento de veículos que tem parte da renda doada à ONG SOS Mata Atlântica.
Há um ano o banco criou o departamento de relações com o mercado, com duas vertentes: o relacionamento com os investidores e a responsabilidade socioambiental.
Em cada uma há sete funcionários. São profissionais que têm entre 20 e 36 anos, com formações que vão desde direito com especialização em gestão do ambiente, saúde e segurança até processamento de dados com pós-graduação em educação e gestão ambiental.
A área é a responsável por uma avaliação socioambiental dos fornecedores, que foram convocados a adotar práticas sustentáveis. Segundo Jean Leroy, diretor do departamento, o peso dessa avaliação no critério de seleção dos fornecedores cresceu de 5% para 15%.
"Como as diferenças nos preços são pequenas, esses 15% são muito importantes", afirma.
Já o Unibanco tem, desde 2003, uma área de "compliance" e responsabilidade socioambiental que aponta riscos de grandes projetos do banco com relação à sustentabilidade.
"Avaliamos os riscos legais e de imagem ligados às operações de crédito", explica Roberto Nakamura, que gerencia o setor. Exemplo: conceder crédito a uma empresa que não atende à legislação ou às normas específicas de seu setor é considerado arriscado.
Sob sua tutela trabalham dois analistas, ambos advogados. "Isso ajuda, porque é preciso estipular nos contratos as exigências do banco. Por isso resolvemos ter profissionais com mais conhecimentos legais", comenta o gerente. (RGV)

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