São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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LONGO CAMINHO

Revalidação é lenta e exige preparação

Na USP, 4 em 5 diplomas têm processo reprovado

Brito Jr./Folha Imagem
A médica Ivone da Rocha

RAQUEL BOCATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudar no exterior é um diferencial no currículo. A experiência, no entanto, pode não ter o efeito desejado, especialmente se o profissional não conseguir revalidar o diploma para atuar em sua área.
O processo, que deve ser feito em universidades públicas (veja quadro ao lado), é rigoroso e pode durar anos. Sem a aprovação, é impossível atuar em carreiras como medicina, engenharia e arquitetura.
Na USP, dos 75 processos de revalidação de diploma de graduação protocolados em 2007, 17 foram aprovados -ou 22,7% deles. Nos últimos dois anos, foram solicitadas 112 revalidações e aprovadas 26 -algumas ainda estão em avaliação.
A secretária-geral da reitoria da USP, Maria Fidela de Lima Navarro, diz que há transparência no processo. "É preciso avaliar a compatibilidade [das disciplinas cursadas com as da instituição brasileira]", salienta, acrescentando que não há garantias de que o diploma estrangeiro seja validado aqui.
A UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e a Unesp (Universidade Estadual Paulista) não têm os índices de aprovação. A primeira recebe, em média, 50 solicitações por ano; a segunda protocolou 204 solicitações entre 2006 e 2009.
Apesar de concordarem que não há certeza de revalidação, a secretária-geral da reitoria da Unesp, Maria Dalva Silva Pagotto, e o técnico administrativo da pró-reitoria de graduação da UFSCar Evandro Carvalho recomendam comparar programas e disciplinas antes de se matricular em um curso de graduação no exterior.
Para o advogado José Galhardo Viegas de Macedo, que cuida de mais de cem processos de profissionais que não conseguiram revalidar o diploma no Brasil, a baixa aprovação indica reserva de mercado. "Os pedidos são indeferidos sem que seja oferecida complementação."
Navarro, da USP, diz que a universidade não comporta mais estudantes além dos absorvidos no vestibular. Carvalho, da UFSCar, assinala que, muitas vezes, não há interesse dos profissionais em cursar todas as disciplinas. Na Unesp, afirma Pagotto, os alunos podem complementar os estudos.

Medicina
Os pedidos de revalidação da USP, da Unesp e da UFSCar totalizaram 172 em 2009. Mas o número dos que têm diploma estrangeiro é maior. Por isso, os ministérios da Educação e da Saúde se uniram para aplicar um exame a médicos com diploma estrangeiro.
O MEC afirma que, por ora, trata-se de um projeto piloto, por ser "significativo" o número de médicos nessa situação.
A advogada Mirtys Pereira, que diz ter 800 processos de revalidação na Justiça, ressalta que a área "mais complicada" é medicina. Sem poderem atuar na área de formação, os profissionais "ficam deprimidos".
A pediatra Ivone da Rocha, 38, viu uma oportunidade na dificuldade para revalidar seu diploma de medicina, conquistado no Equador. Não parou de estudar -assistiu a aulas como aluna especial. Foi tradutora enquanto não podia clinicar.
Depois de um processo de um ano e quatro meses, conseguiu a revalidação. "O bom estudante tem que aproveitar."

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