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A qualidade de vida no trabalho
A crise abriu novas portas para os cuidados pessoal, comunitário
e organizacional
ANA CRISTINA LIMONGI-FRANÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O sentimento sobre a necessidade de proteção para o bom
desenvolvimento da vida no
trabalho tem percorrido muitos caminhos: a segurança no
trabalho, o combate à doença
ocupacional, as condições de
vida psicossocial, a responsabilidade empresarial do público
interno, a sustentabilidade, a
felicidade no trabalho e, mais
recentemente, a superação da
crise econômica e financeira.
Será que isso é possível?
Com a crise, uma nova visão
de bem-estar precisa ser arquitetada: como viver bem com
quadros de pessoal enxutos,
sobrecarregados de relatórios,
contratos precários, fornecedores, instabilidade do mercado financeiro e necessidade
de contínua qualificação.
Qualidade de vida pessoal e
organizacional é o conjunto de
escolhas de bem-estar visando
os equilíbrios biológico, psicológico, social e organizacional.
O equilíbrio é desejado, mas, na
prática, sobretudo em momentos como este, há um desalento
pela possibilidade de desemprego ou assédio moral.
Alguns caminhos podem auxiliar nos primeiros passos para o encontro da qualidade de
vida verdadeira -que toca a
vontade de viver mais e melhor.
Os passos iniciais são o cuidado
pessoal, os bons hábitos do grupo de convivência e os valores
de bem-estar no trabalho.
A consciência administrativa
sobre as necessidades das pessoas e os novos desafios no trabalho têm estimulado a estruturação das atividades de qualidade de vida nas empresas, caracterizando uma nova competência: a GQVT -gestão da
qualidade de vida no trabalho.
A GQVT é o conjunto de escolhas de bem-estar -único e
personalizado- em busca do
equilíbrio a partir do vínculo
com o trabalho. Esse equilíbrio,
orientado por domínios BPSO
(veja quadro), gera marcadores
específicos de cada cultura organizacional e de dados consolidados em estudos científicos e
práticas empresariais.
De forma geral, observam-se
as seguintes associações entre
as ações e os domínios BPSO,
com os aspectos essenciais para
a qualidade de vida no trabalho:
- hábitos saudáveis associam-se à dimensão biológica;
- autoestima e reconhecimento, à dimensão psicológica;
- consumo e educação, à dimensão social;
- e ergonomia e clima, à dimensão organizacional.
O fundamento do modelo
origina-se na medicina psicossomática, que propõe uma visão integrada sob o princípio de
que todos têm potencialidades
biológicas, psicológicas e sociais que respondem simultaneamente às condições de vida.
A qualidade de vida no foco
da gestão prevê resultados de
natureza pessoal, como o balanço saudável da vida particular e do trabalho, a atenção à
vocação laboral e aos novos padrões de consumo e a aproximação das camadas sociais.
Já as organizações, ao abrirem espaço para a qualidade de
vida das pessoas, agregam valor
de bem-estar comprometido e
qualificado em todos os níveis.
Ao lado dos tradicionais cuidados como alimentação, atividade física e relacionamentos
saudáveis, surgem com a crise
muitas novas formas de cuidar
da qualidade de vida. Entre as
novas práticas temos atitude
positiva, qualificação e ética
no exercício profissional,
orientações sobre custos e práticas de consumo responsável e
valorização da cidadania.
Nas empresas, o que por
muitos anos foram ações aleatórias de qualidade de vida no
trabalho hoje evoluiu para um
crescente conjunto de valores e
práticas de bem-estar, de forma
a atender o maior número possível de empresas e pessoas.
A crise, como em outros tantos
desafios de vida, abriu novas
portas para cuidados pessoal,
organizacional e comunitário.
Mas ainda há muito para ser
feito. A gestão do bem-estar está amadurecendo como algo
indispensável à vida. A crise
traz o desafio de superação e a
oportunidade de refletir e
transformar a vida. O caminho
é utilizar nossas energias para
superá-la e aprender com ela.
ANA CRISTINA LIMONGI-FRANÇA, psicóloga e professora associada da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), é coordenadora do Núcleo USP
de Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho. É autora de
"Psicologia do Trabalho: Valores, Práticas e Abordagem Psicossomática" (ed. Saraiva), entre outras obras
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