|
Próximo Texto | Índice
BASTIDORES DA RECOLOCAÇÃO
Após incluir dados em sites de recolocação, 76% recebem ligações de outras consultorias
Currículo on-line facilita golpe do emprego
ANDRESSA ROVANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O que todo desempregado espera é que o telefone toque. Mas
atendê-lo é cada vez mais arriscado. Do outro lado da linha, pode
estar alguém que se diz "head-
hunter" (caçador de talentos) repetindo um texto decorado: "Tivemos informações sobre você no
mercado e temos uma vaga exata
para o seu perfil. Vamos marcar
uma entrevista com urgência".
É um dos sinais do golpe. A proposta é tentadora, o potencial empregador "adorou" o profissional,
e a contratação será imediata.
Mas, após o pagamento pelo serviço (outro sinal
de alerta, já que os
verdadeiros
"head-
hunters" são pagos pelas contratantes e não pelos
profissionais), o
"quase empregado" não é chamado para trabalhar.
Segundo levantamento feito pela
Folha com
pessoas que caíram ou quase caíram no golpe, 80%
receberam o telefonema. Dessas,
76% tinham incluído recentemente seus currículos em sites de
grandes empresas de recolocação.
Anselmo Zacaria Portes, 25, diz
que recebeu ligação da Marca RH
dias depois de se cadastrar em um
site de empregos. Perdeu R$ 300.
"Não tenho dúvida de que me escolheram a partir do banco de dados do site. Me senti enganado
duas vezes: ao assinar o contrato e
quando ouvi que esperar [pela vaga] fazia parte do processo."
A Folha tentou contatar a Marca RH, mas, até o fechamento da
edição, ninguém atendia o telefone presente no site da consultoria.
O tradutor G.L., 48, que prefere
não se identificar, diz que foi enganado por dez consultorias depois de cadastrar seu currículo em
sites. O prejuízo total foi de R$ 10
mil. "Você fica desesperado e
sempre acha que vai dar certo."
A economista carioca Janaína
de Lima Carvalho, 30, só se deu
conta de que tinha caído em uma
armadilha quando saiu da Interview RH, em São Paulo. "Foi
quando reli o contrato." Após se
cadastrar no site da Manager, ela
recebeu uma ligação. Na entrevista, questionou o valor a pagar (R$
700). A resposta: "Não tirei você
do Rio à toa". Ela perdeu o dinheiro e o que gastou com a viagem.
André Chede, advogado da Interview RH, confirma que a empresa procura currículos em sites.
"Não vou dizer que não fazemos.
Mas não é crime,
já que pesquisamos em sites de
acesso gratuito.
Qualquer um pode ligar para ele."
Para a advogada
do Idec (Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor) Maíra Feltrin, o cliente é a
parte vulnerável
no processo. "Dados do consumidor não podem
ser passados
adiante sem o conhecimento dele."
O diretor-executivo da Manager Online, Leandro Idesis, diz que
a tecnologia é segura. "A consultoria só consegue
ter acesso aos currículos ao se cadastrar falsamente como empresa. Estamos sempre correndo
atrás delas e tirando-as do site."
"É impossível evitar a disponibilização dos dados de contato
dos clientes, pois o convite para a
entrevista [verdadeira] se dá por
esse meio", justifica o diretor-geral do Grupo Catho, Adriano Arruda. "Mas só empresas inspecionadas têm acesso aos currículos".
A Catho é ré em processo aberto
em 2002 pela Curriculum, pela
Manager e pela Gelre por "furto"
de dados. A Catho diz que está segura de que ganhará o processo,
já que não fez nada de errado.
Próximo Texto: Frase Índice
|