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A armadilha inevitável da comparação

DE SÃO PAULO

Raquel é a má, Ruth, a boazinha. Pode parecer coisa de novela, mas é comum gêmeos ganharem rótulos do tipo "o bagunceiro e o quieto", "o carente e o independente".

"É inevitável. Sempre vai ter um mais dependente e outro mais falante", afirma a psicóloga Charbelle Jabbour, que tem uma irmã gêmea.

O problema não é reconhecer as diferenças: é falar sobre elas atribuindo valores positivos ou negativos.

"Para as crianças, a diferença ajuda no desenvolvimento. Quem atribui valor são os adultos", explica a neurocientista Elvira Souza.

O risco de se comparar irmãos gêmeos ou mesmo de idades diferentes é acabar estimulando a competição.

"Muitos usam o outro irmão como referência e fazem tudo pensando em ser melhor ou igual", diz Charbelle.

Outro risco é as crianças levarem os rótulos a sério e assumirem de vez o papel.

"Todo mundo é um pouco bagunceiro, bonzinho ou quieto. É preciso que os pais valorizem diferenças e qualidades", diz a psicoterapeuta Sâmara Jorge, que orienta pais de gêmeos.

Isso de "valorizar diferenças e qualidades" pode ser fácil de dizer, mas é difícil de aplicar. A psicóloga Alessandra Vieira, professora da Universidade Federal de Goiás, estudou educação de gêmeos na sua tese de doutorado. Ela descobriu que a crença de que os irmãos são iguais ainda é muito forte.

Um exemplo é essa história de a mãe tentar dar a mesma atenção aos dois. "Os pais se pautam em uma ideia de justiça, mas ninguém precisa de carinho igual. É preciso admitir que eles não têm as mesmas necessidades."

Na prática, se um pedir mais atenção, dê sem medo. "A mãe pode fixar um limite e procurar incluir o outro", diz Sâmara Jorge.

Quanto às comparações, a recomendação é conversar com as crianças e tentar prepará-las para ouvir comentários inconvenientes. Além disso, pedir a parentes que evitem falar coisas tipo "ele é mais agitado, né?". Tarefa difícil. (JULIANA VINES)

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