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Bateu, levou

MORRIS KACHANI IARA BIDERMAN DE SÃO PAULO

Este é o ano das mulheres no MMA, modalidade que combina diversas técnicas de luta e movimenta milhões de dólares no mundo.

O UFC (Ultimate Fighting Championship, marca avaliada em mais de US$ 1 bilhão) levou neste ano, pela primeira vez, lutadoras ao octógono, o ringue de MMA.

No segundo evento com luta feminina, realizado no mês passado, em Las Vegas, o combate de mulheres foi considerado o melhor da noite pelo público e pela crítica. A transmissão gerou US$ 18 milhões só com a venda de pacotes "pay per view".

O público queria saber quem seria a próxima treinadora na 18ª edição do "The Ultimate Fighter". O reality show, transmitido pelo canal pago Fox Sports, é o celeiro de novos talentos do MMA e nunca antes no programa mulheres tinham sido selecionadas para liderar grupos.

A vencedora, a americana Cat Zingano, vai dividir a liderança com Ronda Rousey, campeã da categoria peso-galo. O título foi conquistado em fevereiro, na Califórnia. Com uma chave de braço no primeiro assalto, Rousey venceu a primeira luta feminina de MMA no UFC, maior campeonato da modalidade.

Sua oponente, a também americana Liz Carmouche, quase encaixou-lhe no início da luta um "mata-leão" (estrangulamento). Mas, uma vez mais, Ronda mostrou porque não é famosa só pela beleza (ela até já posou nua para a "Revista ESPN").

Ronda se desprendeu da oponente e desferiu nela uma série de socos potentes, não sem antes dar uma paradinha para ajeitar seu top preto.

BOM NEGÓCIO

O interesse do público feminino pelo MMA vem crescendo há algum tempo. "Mas só agora o UFC se deu conta de que é um bom negócio ter mulher lutando", diz Kyra Gracie, pentacampeã mundial de jiu-jítsu e, desde o fim de 2012, comentarista de MMA no canal pago SporTV.

Quarta geração da família de lutadores Gracie, Kyra afirma que há muito machismo no meio. Até pouco tempo, Dana White, presidente do UFC, declarava que nunca teria mulheres no evento. Hoje pensa em criar mais divisões para o MMA feminino.

Mas ainda é difícil para as lutadoras conseguirem patrocínio e, quando conseguem bolsa para treinar, o auxílio é menor do que o dado para os homens, segundo Kyra.

O sucesso do MMA entre as mulheres não se limita ao esporte profissional. Aulas da modalidade entraram nas grades das academias e, nas especializadas em lutas, as alunas já não são aquela minoria inexpressiva.

Marcelo Caldas, coordenador da Mavors MMA Gym, em São Paulo, conta que, quando a academia foi inaugurada, em 2012, a proporção era de 5 mulheres para 30 homens. Hoje, elas são 54 num total de 115 alunos.

A rede de academias Competition abriu horários para treinos de MMA em duas unidades em São Paulo. Nas aulas, que têm entre 15 e 20 alunos, 80% são mulheres.

A principal motivação das lutadoras não profissionais é o condicionamento físico, segundo Caldas. A possibilidade de queimar entre 800 e 1.200 calorias por hora e aprender técnicas de defesa pessoal são os grandes atrativos, afirma Kyra Gracie.

Amadores também buscam a modalidade como uma válvula de escape. "E mulher é sempre um pouco mais estressada", acha Kyra. "Se você está com TPM, é ótimo: usa toda sua energia e joga o estresse em cima da adversária."

Regina Carvalho, 64, passa quatro horas por dia na academia e já experimentou todas as modalidades de luta oferecidas lá. Mãe de três e avó de sete, ela afirma que a aula de MMA é a que mais alivia o estresse. "A parte do treino que mais gosto é a de bater no saco de pancadas."

O treinador Caldas lembra que "não dá para ensinar MMA para alguém que nunca fez arte marcial". As aulas são baseadas em técnicas e fundamentos de várias lutas tradicionais. É recomendado fazer musculação em paralelo, para evitar lesões.

Para atrair o público feminino, Caldas afirma que o importante é manter a academia sempre limpa e cheirosa.

O treino é o mesmo para homens e mulheres. Mas elas preferem as lutas em pé, especialmente o muay thai, com menos contato físico.

DO BALÉ À LUTA

A estudante de economia Ana Beatriz Campos, 24, fez balé por dez anos. "Parei porque engordei demais e desanimei. Mas sentia falta de uma atividade física", diz. Escolheu as artes marciais por "não ser um simples exercício. Tem uma meta".

Ela levou a flexibilidade e a disciplina do balé para o treino de luta. Ana diz que dança também machuca, mas avalia que o risco de contusões é maior no MMA.

Quando começou a frequentar os treinos, há um ano, seus amigos se assustaram. "Mas depois eles acharam bacana. Era diferente uma mulher gostar de luta."

A publicitária Giovana Riggo, 22, diz que prefere a luta à malhação por ter "preguiça de fazer coisas sozinha". Entre as atividades físicas, a única fixa é o MMA. Seu pai se opõe à prática: "Ele acha que eu vou ficar musculosa, parecendo homem".

Fã de campeonatos desde pequena, quando já acompanhava o Pride, extinto rival do UFC, Giovana assiste às lutas com o namorado e os amigos, em bares.

PINK FIGHT

Competições femininas de MMA no país, como a Pink Fight, cresceram bastante nos últimos cinco anos. Várias cidades brasileiras já receberam lutas com atletas com nomes de guerra como Kaka Naja, Carmen Casca-Grossa, Carol Mutante ou Jessica Bate-Estaca. Ericka Almeida e Vanessa Porto são as mais bem cotadas.

Cris Cyborg, que foi detentora do cinturão no campeonato Strikeforce de 2009 a 2011, é o maior nome internacional. Mas, em 2012, um exame antidoping a flagrou.

Como acontece em vários esportes de alto rendimento, há muitos casos de doping relatados no MMA feminino, geralmente ligados ao uso de testosterona, hormônio masculino que aumenta a força.

A luta feminina, porém, envolve mais técnica do que força. "Você não vê aqueles nocautes horríveis com chutes ou socos sangrentos", diz Marcelo Alonso, apresentador do canal Combate, emissora oficial do UFC no Brasil.


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