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Pode ou não pode?

Economista americana usa estudos para questionar orientações dos médicos na gravidez e diz que um drinque por dia não faz mal

JULIANA VINES DE SÃO PAULO

Beber uma taça de vinho por dia não faz mal nenhum durante o segundo e o terceiro trimestres de gravidez, mas comer peito de peru ou queijo fresco, sim, pode ser prejudicial e deve ser evitado.

As recomendações estão no livro "Expecting Better" (esperando o bebê de uma forma melhor), recém-lançado nos Estados Unidos e escrito por uma economista.

Emily Oster, 33, é professora da Universidade de Chicago e mãe de uma menina de dois anos. Na gravidez, ela se viu perdida entre informações desencontradas de obstetras e procurou estudos que justificassem dogmas como evitar carne crua e beber menos café.

Depois de analisar os estudos --no livro, ela cita 285--, concluiu que a gravidez é "um mundo de regras arbitrárias, no qual pesquisas científicas fracas se transformam em sabedoria popular".

Sobre o álcool, Oster afirma que é "muito difícil achar uma boa evidência de que uma quantidade pequena tenha impacto no comportamento ou no QI da criança".

E chama de draconianas as diretrizes oficiais que vetam o álcool, como a do Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas. Segundo a entidade, beber pode causar aborto, parto prematuro e síndrome alcoólica fetal, que pode levar a malformações.

Em resposta ao livro, a ONG americana Nofas (Organização Nacional de Síndrome Alcoólica Fetal) publicou nota dizendo que os conselhos de Oster são "nocivos" e que ela não tem qualificação para escrever sobre o tema.

"Eu já esperava essa reação. Mas é importante notar que ainda há muito desacordo sobre o assunto entre médicos", disse Oster à Folha.

"O objetivo do livro não é dizer o que fazer, mas apresentar a evidência científica para que as mulheres possam decidir sozinhas."

CADA UM DIZ UMA COISA

Obstetras brasileiros reconhecem que não há consenso nas recomendações dadas às grávidas. A explicação, segundo Eduardo Fonseca, professor livre-docente pela Faculdade de Medicina da USP, é que as pesquisas existentes não são conclusivas.

Boa parte dos estudos nessa área é feita em animais e não dá para ter certeza de que o resultado seria o mesmo em humanos, diz Denise Pedreira, do Hospital Samaritano.

"Esses trabalhos não podem ser feitos com pessoas. Não podemos colocar grávidas para fazer coisas possivelmente nocivas. São dilemas que nunca terão uma resposta científica", afirma.

Na falta de evidência, alguns médicos optam por proibir quase tudo. "É melhor pecar por excesso que por falta", diz Renato Sá, presidente da Comissão de Medicina Fetal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

Esse raciocínio é usado para proibir o álcool, já que é impossível estabelecer uma dose segura. "Um drinque que deixa você só alegrinho pode ser um porre imenso para o bebê", completa Sá.

Mas há médicos que não veem problemas no consumo eventual, definido como "uma taça de vinho por semana" por Eduardo Zlotnik, obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.

RISCOFOBIA

A lista de recomendações de Oster inclui desde não usar hidromassagem quente --pelo risco de malformação no primeiro trimestre-- até evitar a jardinagem, por risco de toxoplasmose.

Para a obstetra Denise Pedreira, as proibições, cada vez maiores, transformam a gravidez em uma prisão. "Você deve se considerar em um estado especial e evitar certas coisas. Mas não achar que não pode fazer nada."

Segundo ela, 90% das malformações no início da gravidez não têm causa definida. "Algumas coisas vão acontecer independentemente do cuidado que você tiver."


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