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Outras Ideias

MICHAEL KEPP - mkepp@terra.com.br

Pegadinhas americanas

Numa pegadinha é você mesmo quem ri ao fazer a vítima ficar constrangida ou desnorteada

Um mês atrás, o apresentador de "talk show" americano Jimmy Kimmel pediu aos espectadores que dessem presentes de Natal antecipados e horrorosos a seus filhos e filmassem as reações destes.

Como se previa, quando as crianças abriram os pacotes contendo uma banana podre, um sanduíche meio comido ou um rolo de papel higiênico, muitas choraram. Um menino chegou a usar o papel higiênico para enxugar suas lágrimas.

Quando Kimmel pôs as fitas no ar, a plateia do programa achou tudo muito engraçado. Isso é porque esse tipo de brincadeira ou pegadinha é um costume arraigado nos EUA.

Embora o "Dia da Mentira" exista em muitos países, inclusive no Brasil, a cultura americana é a única que conheço que faz brincadeiras tão cruéis o ano inteiro.

Diferentemente de uma piada, que você conta para arrancar risos de outras pessoas, numa pegadinha é você mesmo quem ri ao fazer a vítima de sua armadilha ficar decepcionada, constrangida, desnorteada ou assustada.

Algumas brincadeiras desse tipo, como colocar uma rã na gaveta da mesa da professora, são pobres em imaginação. Outras são criativas, mas, ainda assim, cruéis.

É o caso do oftalmologista que pôs fotos muito fora de foco de sua família na estante atrás de sua mesa de consultório, para que os pacientes pensassem que sua vista tinha piorado.

Outras pegadinhas são políticas. Uma vez, alguns jornalistas que eu conhecia, os primeiros a entrar no recinto do tribunal no último dia de um julgamento, puseram uma capa de tampa de privada de papel sobre a cadeira do juiz que tinha demonstrado viés contra o réu, um repórter acusado de difamação.

Quando o juiz entrou no tribunal e entendeu a metáfora, exigiu saber quem era o culpado.

Uma brincadeira desse tipo pode ser um tiro que sai pela culatra.

Uma vez, um amigo me convidou para um jantar de cinéfilos e pediu que eu fingisse ser um cineasta conhecido, mas recluso e raramente fotografado. Para meu deleite, os convidados bajulavam "meus" filmes. Até meu amigo (da onça) revelar, quando eu estava no banheiro, que eu era um impostor.

Quando voltei, os outros me bombardearam com perguntas difíceis sobre "minha" obra, que eu não sabia responder. Enquanto todos tentavam conter risos, eu me esforçava para conter meu desconforto. Foi a última brincadeira desse tipo na qual me meti.

MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 29 anos no Brasil, é autor do livro "Tropeços nos Trópicos - crônicas de um gringo brasileiro" (editora Record);

www.michaelkepp.com.br

NA PRÓXIMA SEMANA
Mirian Goldenberg

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