Entrevista Sri Prem Baba
Temos de parar de culpar o cônjuge por não sermos felizes
O OUTRO NÃO TEM CULPA SE SOMOS INCAPAZES DE AMAR, DIZ PSICÓLOGO QUE VIROU GURU ESPIRITUAL
Prestes a fazer 50 anos, Sri Prem Baba, guru brasileiro que conquistou seguidores em vários países, acaba de lançar o livro "Amar e Ser Livre" (ed. Agir, 131 págs.), no qual tenta entender as dificuldade dos seres humanos em construir relações saudáveis.
Além de dar palestras, ele ministra cursos da sua Escola do Coração, que tem unidades em São Paulo e Brasília, e lidera o Instituto Awaken Love Action, que ajuda a divulgar seu pensamento.
O psicólogo paulistano, nascido na Aclimação como Janderson Fernandes de Oliveira, entende que todos os problemas existenciais e da humanidade têm origem no fato de o ser humano sempre se colocar como vítima. "Todas as crises têm origem em nós mesmos", afirma.
Ele diz ter descoberto isso na Índia, pelos ensinamentos de um mestre espiritual que conheceu em uma comunidade na cidade de Rishikesh.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - Como um psicólogo foi encontrar respostas na religião?
Sri Prem Baba - Quando a psicologia vai fundo, esbarra na esfera espiritual. Por que as pessoas têm tanta dificuldade para se relacionar? Por que precisam sofrer mesmo amando? Tentei encontrar respostas no catolicismo, no kardecismo, no budismo, na umbanda. Cheguei a um beco sem saída, com direito a síndrome do pânico, depressão, ceticismo.
Quando encontrei meu guia espiritual [Maharajji, mestre que ele encontrou em uma comunidade espiritual em Rishikesh, na Índia], me sentia em uma floresta escura, mas já não estava só.
Encontrou a resposta?
É conseguir amar sem querer nada em troca.
Todos carregamos esse poder. Só que nos distanciamos disso devido a traumas, condicionamentos, humilhação, exclusão e dores.
O senhor foi casado três vezes. O que aprendeu?
Todas as relações foram maravilhosos instrumentos de aprendizado. Eu ainda culpava o outro pelas minhas dificuldades e pela incapacidade de amar e de ser feliz.
Fui descobrindo que tinha aprendido a ser ciumento, possessivo, inseguro. Criança nasce amando, confiando. Aprende o contrário em casa. Temos que interromper esse ciclo vicioso.
Recomenda o casamento?
Fui casado, namorei um monte. Agora, estou sozinho.
Sinto que já vivi o que tinha para viver nessa área. Tirando todo o romantismo, relacionamento é universidade. Você só tira o diploma quando consegue deixar o outro livre até para não te amar se ele não puder ou não quiser.
Qual a consequência de não assumirmos responsabilidades?
Aí está uma das raízes da guerra. É o que faz com que uma pessoa acuse a outra, uma cidade acuse a outra, um país acuse o outro. Ninguém assume a responsabilidade.
Por que tanta gente usa antidepressivo e medicamentos para dormir?
Li numa pesquisa que o segundo medicamento mais vendido no mundo é remédio para dormir. O primeiro, pílula anticoncepcional. Curiosíssimo. Isso nos faz perceber o grau de sofrimento e dor do ser humano, que lhe impede de ter sono. As pessoas não desligam mais. Estão o tempo todo buscando saídas.
Estamos fugindo do luto?
Exatamente. Um dos caminhos para atravessar esse vale escuro, de sair de um velho para um novo casamento, é a disponibilidade de sentir, inclusive frustração e tristeza, sem tentar amortecer isso.
A crise básica que permeia a vida humana é acreditar que a felicidade vem do outro. Se estamos sem dinheiro, trabalho, sozinhos, a culpa é do outro, de Deus, do karma ou da macumba. Sempre fora de nós. Por isso, o autoconhecimento é chave para superar sofrimento e vícios destrutivos das relações.
Qual é o propósito da nossa alma? Esse planeta não é um shopping. Não é um lugar para ficar três dias, comprar coisas, casar, ter filho e ir embora. A razão de estar aqui é nos amarmos sem nos machucar nem machucar o outro.
O senhor se definiu como uma pessoa simples. Por que chegou aqui em um utilitário da Mercedes-Benz?
Não é minha. Hoje, a pessoa que estava disponível para me trazer tem uma Mercedes. Mas já vim de Palio, Gol, Fox. Ou a pé.
Amada, faço questão de responder essas questões. Sou sincero e transparente. Na Índia, moro num quarto. Assim como fico hospedado em palácio, fico em uma cabana.