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Anna Veronica Mautner

amautner@uol.com.br

Por que as escolas querem tantas reuniões?

A reunião de pais e mestres é uma chance de mostrar o valor da profissão, do método de ensino e da escola

Alguns pais gostam, outros não, de reuniões de pais e mestres.

Eu não tenho nenhum acompanhamento estatístico a respeito do aumento ou diminuição do número das reuniões de pais e mestres nas escolas de ensino fundamental e médio, mas eu diria que deve estar aumentando sua frequência.

Quero aventar uma hipótese do porquê de as escolas ansiarem tanto por manter contato coletivo com os pais.

Fala-se muito que a profissão de professor vem sendo cada vez mais desprestigiada. Ganharia pouco, trabalharia muito, sem os aplausos de seus semelhantes.

A reunião de pais e mestres é uma chance de mostrar o valor da profissão, do método de ensino e da escola.

Para o professor, é quase um grito de "Eu existo, eu estou aqui, eu faço coisa importante", apesar de não fazer parte dos altos da pirâmide econômica.

A ideia de vocação, de poder fazer aquilo de que gosta e de ver o resultado do seu trabalho pelo aproveitamento dos alunos, parece não ser suficiente para manter a autoestima dos professores.

Já está longe, lá atrás no tempo, o professor que disputava carisma entre os pares. Ser um mestre já foi garantia de posição privilegiada no mundo.

Mas, em um mundo em que se propõe educação a distância, em que a informação vem ininterruptamente de muitas fontes, o professor é uma fonte a mais. Falar aos pais seria uma tentativa, certamente inconsciente, de chamar a atenção para a diferença.

A interatividade professor/ aluno distingue essa relação de todas as outras.

Entre professor e aluno, trocam-se não apenas informações objetivas ou subjetivas mas também afetos. Na sala de aula, mergulhamos em emoções advindas de aceitação, rejeição, simpatia, sujeição, autonomia. Na relação entre instrumentos eletrônicos e receptores, no caso, aprendizes, fica vaga essa parceria.

De uma forma surda e muda, me parece, a convocação de reuniões é uma tentativa de vender a especificidade da situação escolar diante das outras formas de difusão de conhecimento. A reunião, pois, é um ponto de venda.

O contato entre a instituição e os pais sempre existiu. O boletim ou a caderneta de notas sempre foi um meio de informar os pais sobre o desempenho do aluno.

Às vezes, os professores pediam aos pais que assinassem as provas, outro jeito de um pai acompanhar o desempenho do filho. A caderneta e o boletim também informavam sobre assiduidade, além de comportamento e aplicação, itens que há muito tempo desapareceram.

As questões de sociabilidade, quando surgiam, eram tratadas entre a escola e os pais de forma privada.

Dificuldades de adaptação, disciplina, nível de interesse, quando aconteciam, também eram tratados discretamente, não no ponto de venda, alcunha que dei à reunião de pais e mestres.

ANNA VERONICA MAUTNER psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ágora) e "Educação ou o quê?" (Summus)

ROSELY SAYÃO
A colunista está em férias

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