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MMA Bandido ou mocinho O MMA está na moda e em tudo quanto é lugar; seus adversários criticam a glamourização da violência e adeptos rebatem dizendo que a luta desenvolve a disciplina e controla o estresse
DE SÃO PAULO Goste ou não, você vai ser atacado por todos os lados: a luta da moda, o MMA, está na TV, no cinema, nas livrarias, nas conversas de bar, nas academias de ginástica. Os patrocinadores do UFC (campeonato internacional de MMA) já estão batendo os tambores para o próximo torneio, que será realizado em junho, no Brasil. São ajudados pelos subprodutos da luta e ajudam a promovê-los. Na próxima sexta-feira, 16, estreia o documentário "Anderson Silva: Como Água", sobre o grande ídolo da modalidade, com um esquema de distribuição peso-pesado: 150 salas e uma expectativa de público recorde. Em abril, estão previstos três lançamentos de livro sobre o tema: "Filho Teu Não Foge à Luta: como os lutadores brasileiros transformaram o MMA em um fenômeno mundial", pela editora Intrínseca, "A Bíblia do MMA", pela Universo dos Livros, e a autobiografia de Anderson Silva, pela Sextante. E se você já achava muito ter um bonitão na novela na pele de um lutador (o ator Dudu Azevedo, em "Fina Estampa", da TV Globo), prepare-se. Está sendo filmada a história de José Aldo, campeão dos pesos-pena, vivido na telona por outro bonitão de novelas, Malvino Salvador. Nas academias, as aulas de MMA estão inchando. De olho no filão, a Fitness Brasil, maior feira de tendências para o setor, que acontece em Santos no final de abril, vai apresentar treinos formatados para esse público de academias, além de montar um octógono (ringue de MMA) durante o evento, onde serão realizadas lutas. Tantos adversários e marketing tão poderoso tornam difícil a vida dos críticos da luta. O de maior visibilidade, atualmente, é o deputado federal José Mentor (PT), que apresentou um projeto de lei proibindo a transmissão dos campeonatos pela TV. Em artigo publicado na Folha (5/3), ele ataca o que considera brutalidade e propaganda de violência gratuita. Não se sabe se esse golpe tem força para derrubar o fenômeno do MMA, mas ele vai direto ao calcanhar de Aquiles da modalidade. A imagem de atividade violenta e sem limites é tudo o que patrocinadores, empresários e profissionais querem deixar longe da prática. PÓS VALE-TUDO "A luta começou chamando 'vale-tudo', mas mudaram o nome para artes marciais mistas [MMA na sigla em inglês] para ficar mais palatável", diz o professor de jiu-jítsu Roberto Godoi, da academia Godoi, de São Paulo. O novo clube da luta tenta valorizar mais aspectos como autocontrole e disciplina do que força bruta. "O aumento de alunos nas aulas de MMA é imenso. Eles querem diminuir o estresse, desenvolver disciplina. Fora o gasto calórico, que é enorme", afirma o fisioterapeuta e professor Thomas Henrique Cabrera, que dá aulas da modalidade na rede de academias Runner, em São Paulo. Lutas sempre foram um produto nas prateleiras das academias, mas com o MMA a procura explodiu, segundo o empresário Waldyr Soares, presidente da Fitness Brasil. "A onda está ligada à overdose de divulgação da modalidade. Não dá para dizer que não tem brutalidade, mas é uma mina de ouro. E é um baita treino, por isso está vendendo bem nas academias." O treino também serve de válvula de escape. O chefe de cozinha Guilherme Zago, 28, diz que a luta o deixa preparado para o trabalho. "Fisica e mentalmente, a cozinha de um restaurante é mais pauleira que o MMA", afirma. A assistente de marketing Carla Ferro, 37, é outra defensora dos benefícios psicológicos da luta. "Comecei a treinar depois de passar por problemas físicos e emocionais. Tinha terminado meu casamento, estava com a autoestima em baixa e resolvi fazer algo. Me apaixonei pelo MMA." A paixão só não está contribuindo para a vida amorosa, segundo ela. "Todos os namorados que tive terminaram comigo porque não aceitavam meu esporte. Achavam muito masculino." MULHERES NA LUTA Com ou sem a aprovação dos parceiros, o clube de lutadoras está crescendo. "Nos torneios nos EUA, as mulheres são 49% do público; no Brasil, são 37%", diz Wallid Ismail, 43, que promoveu no último final de semana o Pink Fight, campeonato só de mulheres, em Campos (RJ). "Elas dão show, lutam com mais garra para mostrar que acabou essa coisa de sexo frágil", analisa Ismail. A educadora física e personal trainer de corrida Adriana Overgoor, 25, diz não estar preocupada em provar nada. "Em muitos treinos, sou a única mulher. E adoro. Claro, sou tratada como princesa." Adriana afirma que a luta, além de dar condicionamento e força, aumenta o conhecimento corporal, o que, segundo ela, diminui o risco de a pessoa se machucar. Mas diz ter medo de competir profissionalmente. "O dinheiro que poderia ganhar seria gasto arrumando meus dentes." Os treinadores minimizam o risco de lesão. "Com bom treino, nenhum esporte é arriscado", diz o professor de artes marciais Jeremias Cassimiro Alves Silva, 44, que dá aulas de MMA no Conjunto Desportivo Baby Barioni, em São Paulo. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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