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Rosely Sayão

Maduros até a página dois

Os jovens precisam de ajuda para enfrentar um mundo que começam a descobrir com o próprio olhar

UMA JOVEM de 17 anos me escreveu contando que namora um garoto de 15 anos, seu colega de escola. Segundo ela, os dois se gostam, estão juntos desde o ano passado, têm vida sexual ativa e pretendem permanecer namorando.

O problema, conta a garota, é que os pais dele são contra o namoro por causa da diferença de idade entre eles. "Eles dizem que sou muito velha para namorar o filho deles", reclama. Já a mãe dela não coloca empecilho algum em relação a isso.

O que me surpreendeu foi o pedido dela dirigido a mim: que eu conversasse com os pais do namorado para resolver o problema dela.

Isso me fez pensar em muitas outras situações da vida de nossos jovens. Eles parecem ter autonomia de vida bem cedo: frequentam festas nas madrugadas, ingerem bebidas alcoólicas, viajam sem a companhia de adultos, residem temporariamente em outros países etc.

Os jovens têm vida de gente grande desde o início da adolescência. Vida social, pelo menos. Mas será que na vida pessoal eles amadurecem? Temos indícios de que não.

Um desses indícios está no exemplo de nossa leitora de hoje. Ela não encontra outra maneira de resolver o que considera um problema em sua vida a não ser pedir para que um adulto resolva a questão por ela. Não é estranho que uma jovem de 17 anos, que faz tudo o que ela me conta que faz, peça tal coisa?

Depois de conversar com vários jovens dessa idade, constatei um ponto interessante para a nossa reflexão de hoje: os jovens manifestam uma dificuldade de dialogar com os adultos.

Eles falam com os adultos: expõem suas polêmicas opiniões a respeito dos assuntos em pauta, têm sempre bons argumentos para convencer os mais velhos a aceitarem seus pedidos, sabem comunicar o que querem.

Entretanto, em situações de conflito, principalmente quando essas envolvem algum aspecto de suas vidas, não sabem como se comportar, não conseguem enfrentar a situação, perdem toda a segurança que tentam mostrar que têm.

Os jovens acham que não são levados a sério pelos adultos nessas circunstâncias. Pode ser que eles tenham razão.

Conversei também com pais de adolescentes. Muitos deles acreditam que os problemas enfrentados pelos filhos são pequenos ou não significam nada.

Os pais fazem pouco dos altos e baixos emocionais que os filhos sofrem e acham que problema sério mesmo é a escolha do curso universitário que eles farão, o futuro que terão etc.

Essa é uma boa maneira de dificultar o diálogo com os mais jovens: eles percebem, mesmo que não seja expressamente dito, as avaliações dos adultos frente às questões de suas vidas.

Nossos jovens precisam de nós, adultos. Precisam de nossa ajuda para amadurecer, para encontrar coragem na busca de boas soluções para seus problemas, para enfrentar um mundo que começam a descobrir com seu próprio olhar, para enfrentar as vicissitudes da vida.

Só seremos boa companhia para eles nessa jornada se tivermos paciência para dialogar, conflitar, bancar junto a eles o lugar que logo ocuparão: o de adultos maduros que fazem escolhas e arcam com as consequências delas.

Nossa jovem leitora precisa saber que ela pode, sim, continuar a namorar o garoto mais novo -apesar da opinião contrária manifestada pelos pais dele. Sim, é possível. Mas ela precisa saber também que o possível pode ser difícil de enfrentar.

Isso é amadurecer.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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