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Corrida

RODOLFO LUCENA - rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Pé no freio acelera

Para ir mais longe, ter mais velocidade e melhor desempenho, é bom controlar um pouco nossos impulsos

Mais extenuante e gloriosa competição do programa olímpico, a maratona é prova da inesgotável capacidade de resistência e superação da raça humana. Apesar desse perfil grandioso e aparentemente inexpugnável para a maioria de nós, quem navegar pela internet levando a palavra maratona como bússola vai encontrar um sem número de páginas oferecendo treinamentos descomplicados e prometendo sucesso com um mínimo de esforço.

De fato, a maratona não é um bicho de sete cabeças e pode ser domada por muita gente. No ano passado, aconteceram no mundo pelo menos 2.825 provas do gênero -contabilizadas por um grupo de estatísticos especializados. No total, houve mais de 1,44 milhão de chegadas em maratonas -o número de maratonistas é menor, pois muitos não se satisfazem com apenas uma dose de 42.195 metros por ano.

O que não significa que o treinamento para a prova seja coisa trivial. Uma boa preparação dura cerca de quatro meses -considerando que o candidato já tenha boa experiência no mundo das competições pedestres.

A preparação fica cada vez mais sofisticada, notadamente para os atletas de elite. O crescente conhecimento do corpo em movimento permite aos treinadores realizar ajustes precisos no seu projeto, envolvendo desde a alimentação até detalhes da passada do competidor.

Os profissionais formam um mundo à parte, mas algumas de suas experiências bem que podem ser aproveitadas por todos nós. Um bom exemplo é um estudo que analisou a preparação de atletas de elite dos EUA, candidatos à participação nos Jogos de Atenas-2004.

Para encurtar o caso, a pesquisa concluiu que cada um treinava de um jeito e não havia consenso sobre como deveria ser a preparação para a maratona.

Com uma exceção. Todos faziam a maior parte de seus treinos em velocidade inferior àquela que pretendiam manter na maratona. De modo geral, cerca de 70% da quilometragem semanal era percorrida em ritmo mais lento do que o esperado para a prova.

Os treinos mais intensos também eram escalonados para que o impacto não produzisse efeitos por demais deletérios no corpo dos atletas. Da quilometragem total da semana, a elite corria cerca de 10% em ritmo de maratona e apenas 4% indo "para a morte", em velocidade próxima à máxima -ritmo de corrida de 5 km.

Resumo da ópera: para ir mais longe, ter mais velocidade e melhor desempenho, é bom meter o pé no freio e controlar um pouco nossos impulsos e a vontade de quebrar recordes a cada dia. Ensinamento que pode ser muito útil na vidinha nossa de cada dia.

RODOLFO LUCENA, 55, é editor do blog +Corrida (http://rodolfolucena.blogfolha.uol.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)

NA PRÓXIMA SEMANA
Michael Kepp

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