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Corrida

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Dois palmos de neve, 500 maratonas

Aos 82 anos, o americano Bob Dolphin diz que não é nada demais ter feito tantas corridas na vida

Faz pouco, vivi uma das grandes alegrias de minha vida corrida. Tive a oportunidade de participar de um evento muito especial: um bom velhinho de cabelos brancos, veterano da Guerra da Coreia, doutor em entomologia aposentado, completou sua maratona de número 500.

Para se proteger do vento gelado e da chuva que atingiu aquele vale no noroeste dos EUA naquela manhã de sábado, ele vestiu quatro camadas de roupa e, por cima de tudo, uma jaqueta impermeável com capuz. Levava um cajado que o ajudava a manter o equilíbrio no percurso cheio de subidas e descidas, estrada de asfalto enrugado que serpenteava acompanhando curvas do rio e encostas de montanha.

Ele se chama Bob Dolphin e é uma espécie de doce lenda entre os malucos por maratonas -está na sala da fama do clube Marathon Maniacs. De fala mansa e jeito delicado, completou em 2007 sua maratona de número 400. Foi também num dia 31 de março, ali mesmo em Yakima, a cidade onde vive e onde divide a organização da prova com sua mulher, Lenore. Chegou correndo em 5h39min27s, tempo mais do que excelente para uma pessoa que tinha então 77 anos.

De lá para cá, participou de 20 maratonas por ano, em média, para completar agora o objetivo almejado. Nos últimos anos, não conseguia correr o tempo todo: alternava trote com caminhada rápida ou seguia a passo, como aconteceu nessa última, que terminou em quase nove horas.

"Em vários momentos, tive medo de não completar. Tive câimbras na coxa e na panturrilha; se algum ligamento se rompesse, seria o fim", disse-me depois da prova.

O começo de tudo foi há mais de 30 anos, num dia de inverno rigoroso em Columbia, no Missouri. Ao acordar, viu que mais de dois palmos de neve fechavam a entrada da garagem. Não ia dar para limpar tudo e chegar a tempo ao trabalho. Resolveu ir a pé.

Gostou. Nos dias que se seguiram, várias vezes deixou o carro em casa. Quando o clima melhorou, as caminhadas rápidas se transformaram em corrida. Um dia, participou de uma prova de 10 km e ganhou um troféu: ficou em segundo lugar entre os maiores de 50 anos. Passou-se um ano, ele descobriu as maratonas e se apaixonou. Tratou de correr quantas pudesse.

"Eu considero cada maratona como uma nova aventura da qual guardo lembranças ao longo do caminho -a maioria delas, prazerosa."

Correr 500 maratonas, diz ele, não é um grande feito, mas a demonstração de que é possível uma pessoa mais velha se manter ativa. E, do alto de seus 82 anos, aconselha: "Você deve continuar se movendo para alcançar seus objetivos".

RODOLFO LUCENA, 55, é editor do blog +Corrida (http://rodolfolucena.blogfolha.uol.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)

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