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Rosely Sayão

Filhos nativos, pais estrangeiros

Precisamos orientar os mais novos em seu mundo virtual, mesmo com o nosso sotaque de forasteiro

Crianças e jovens nasceram em um mundo diferente dos que já têm mais de 30 anos. Eles vivem em um contexto que não apresenta muitas semelhanças com aquele contexto que seus pais conheceram antes da idade adulta.

Quem tem filhos, hoje, não tem intimidade com o mundo de seus rebentos porque não experimentou nada parecido.

Os mais novos manejam com a maior facilidade todo tipo de traquitana tecnológica. É realmente incrível como eles são exímios no teclado quando jogam, por exemplo.

Às vezes, é difícil acompanhar os movimentos de seus dedos, de tão impressionante que é a velocidade impressa nesses gestos. Aliás, são poucos os adultos que podem, no mesmo tempo em que os mais novos conseguem, vencer os desafios apresentados por esses jogos.

Isso significa que crianças e adolescentes é que são os nativos deste mundo. Nós somos os estrangeiros, no máximo naturalizados.

Essa terminologia criada para apontar as diferenças no mundo atual entre a nova geração e as outras é perfeita, não é verdade?

Há adultos que conseguem lidar com todos esses aparelhos novos e seus recursos com muita destreza também. Mas, uma hora ou outra, aparece um sotaque que denuncia sua origem.

Tal fato deixa muitos adultos constrangidos. Isso porque precisam educar os mais novos e, muitas vezes, as situações que os filhos experimentam têm características que são grandes novidades para os pais.

Vamos analisar o uso da internet como exemplo.

É grande o número de pais que considera normal a criança ou o adolescente participar de redes sociais de todos os tipos sem qualquer acompanhamento ou tutela.

Já ouvi mães dizerem que não é possível fazer esse acompanhamento e nem sequer orientar porque os filhos têm mais experiência e conhecimento do assunto do que elas -e também porque faz parte da vida deles estarem conectados o tempo todo.

É esse o tipo de pensamento que deixa crianças e jovens à deriva no mundo virtual. E os acontecimentos que envolvem os mais novos na internet têm nos mostrado que não podemos deixá-los por sua conta e risco na rede. Eles precisam de nós para aprender a viver no mundo da internet.

Crianças e jovens são ainda escravos de seus impulsos e podem escrever o que pensam sem nenhuma regulação. Podem se arrepender depois. O problema é que tudo, absolutamente tudo que é colocado na internet é permanente.

Experimente, caro leitor, dar ao seu filho uma folha de papel e uma caneta de tinta permanente. Depois que ele desenhar ou escrever algo, peça que ele apague. Impossível. Para fazer outro desenho ou texto será preciso uma folha sobreposta. Mas a que fica embaixo permanece lá.

Assim é tudo na rede: postou, ficou. Mesmo que algo seja apagado, alguém pode ter copiado e é por isso que permanece indefinidamente.

É principalmente por isso, mas também pela falta de domínio sobre o que pode ser compartilhado publicamente e o que deve permanecer na intimidade, que os mais novos precisam de nós.

Uma palavra dita pode ser esquecida. Uma foto pode ser rasgada, queimada. As palavras escritas na rede sempre podem voltar. As imagens registradas na internet, lá ou alhures, permanecerão.

Essa é uma característica do mundo virtual que é um perigo para os mais novos porque eles nem percebem os riscos que correm postando um comentário ou uma foto.

Por isso -insisto- eles precisam de nós no mundo onde vivem, mesmo com nosso sotaque de estrangeiros naturalizados.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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