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'Só me achava bom quando tinha dinheiro'

Jefferson Bernardes/Folhapress
Gérson Worobiej, analista de custos, em seu escritório em Porto Alegre
Gérson Worobiej, analista de custos, em seu escritório em Porto Alegre

DE SÃO PAULO

"Sou analista de custos, dinheiro é o meu negócio. Mas a minha relação com a grana já foi muito complicada.

Eu fazia uma coisa que muita gente faz: comprava as coisas de que precisava ou que queria sem saber como ia pagar. Usava o dinheiro de maneira emocional.

Sempre tinha aquela pontinha de consciência dizendo 'estás comprando essa coisa e sabes que não vai poder pagar'. Mas eu dizia: 'Azar! Quero esse telefone, não me interessa se ele custa R$ 1.500'.

Como eu podia ser burro nesse nível de fazer uma coisa que ia me prejudicar?

Era uma questão de hábito... Estava chateado? Ia gastar para me sentir bem. É quase como fumar, faz mal e tudo mais, mas, quando você está muito estressado, pensa em fumar para se acalmar.

Gastava para ficar calmo, mas claro que não ficava. Eu me sentia um idiota. Já estava confuso, como ia fazer para pagar os dois, três cheques que tinha passado?

No meu primeiro casamento, era uma coisa frequente brigar por dinheiro. Não foi o único motivo da separação, mas pesou bastante.

Na época eu não tinha uma renda fixa. Quando entrava dinheiro era bom, quando não, era horrível, eu era o culpado de tudo. Só me sentia uma pessoa boa quando ganhava dinheiro. Daí gastava.

Minha autoestima só não ficava mais baixa porque eu já nem tinha mais estima.

Dinheiro é tão importante quanto sexo. Como é que dá para transar com a mulher sabendo que no dia seguinte vão cair dois cheques na sua conta e você não tem saldo? Não tem quem aguente.

Eu cheguei a um nível de loucura tão grande que resolvi me lixar para as contas. 'Vamos gastar? Beleza. Não temos como pagar? Dane-se.'

Comecei a me sabotar. Estava quase fechando uma venda e começava a fazer corpo mole. 'O cliente não quer comprar? Não vou receber comissão, tudo bem, vamos deixar esse negócio estourar.'

Minha mãe dizia: 'Se você está no inferno, fique amigo do diabo'. Credo, dá até arrepio me lembrar dessa época.

Agora, no meu segundo casamento, estou no céu. E ela também trabalha com dinheiro: é contadora."

GÉRSON WOROBIEJ, 43, analista de custos

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