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Outras Ideias

MIRIAN GOLDENBERG - miriangoldenberg@uol.com.br

A ditadura do prazer

Para muitas mulheres, o sexo se tornou mais uma obrigação; e muitas preferem fingir a dizer não

Um dos dados que mais chama a atenção nas minhas pesquisas é o da insatisfação sexual. A ideia de que o desejo sexual masculino é muito maior e o feminino é mais complicado está presente nos discursos de homens e de mulheres.

Uma professora de 37 anos diz: "Os homens acham que preliminares são minutos de carinhos na cama. Para mim, preliminar é tudo o que ele faz muito antes: a atenção, a delicadeza, o sorriso, a gentileza. Não adianta ser carinhoso na cama se passou o dia todo sendo agressivo, implicante ou desagradável".

Uma nutricionista de 52 anos reclama: "Meu marido acha que não tenho vontade de fazer sexo por estar na menopausa. Diz que muitas mulheres têm orgasmos múltiplos e eu não tenho nenhum há tempos. Com tanto blá-blá-blá fico mesmo sem tesão".

Ela diz que o filho, de 27 anos, prefere garotas de programa. "Ele é bonito e inteligente, pode ter a namorada que quiser. Mas acha as meninas chatas demais, querem jantar, ir ao cinema e, depois, ainda querem discutir a relação por SMS. Ele acha mais divertido e barato transar com garotas de programa."

Muitos homens reclamam das excessivas demandas afetivas e sexuais das mulheres.

Um economista de 45 anos diz: "Na hora de ir para a cama, minha mulher começa: você tomou banho, escovou os dentes, passou fio dental? Pagou o INSS da empregada? Levou o carro para o mecânico? É fácil entender por que tantos homens preferem prostitutas".

Um jornalista de 30 anos conta: "Depois que tivemos nosso filho, minha mulher não quer mais transar. Está sempre ligada no bebê, na casa, no trabalho. Diz que está exausta, que é uma fase e que não estou sendo compreensivo. Só que estou há mais de seis meses sem transar. Que homem aguenta?".

Um sociólogo de 49 anos afirma: "Se minha mulher quisesse, eu transava com ela todos os dias. Só que ela não quer. Eu preciso muito mais de sexo do que ela. Acho que é da natureza masculina. Por isso, tenho duas amantes. Não vou transar só quando ela quer".

Entrevistei muitas mulheres que fingem ter um orgasmo para poder dormir ou fazer as coisas que realmente querem fazer. Elas dizem que gostam de sexo, mas se sentem oprimidas com a obrigação de gozar cem por cento das vezes.

Não é estranho pensar que, para muitas mulheres, o prazer sexual tenha se tornado mais uma obrigação? E que muitas prefiram fingir a dizer não?

MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Toda Mulher é Meio Leila Diniz" (Ed. BestBolso)

NA PRÓXIMA SEMANA
Anna Veronica Mautner

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