Índice geral Equilibrio
Equilibrio
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

Rosely Sayão

Medo de crescer

A criança tem emoções contraditórias ao sentir que vai ganhar mais autonomia, na faixa dos sete anos

A mãe de um garoto de sete anos está preocupada porque, nos últimos meses, ele anda medroso. Tem medo do escuro, de monstros, de andar sozinho pela casa. Nem mesmo ao banheiro ele consegue ir sozinho.

Ela achava que os "medos bobos", como os chama, não teriam mais força com a chegada dos sete anos.

Já outra mãe, cuja filha tem a mesma idade do garoto acima citado, anda é muito irritada com a menina. "Parece adolescente!", diz ela. Desobedece, faz birras sem o menor sentido, só quer fazer o que quer e na hora que quer, anda respondona e chegou, inclusive, a xingar a mãe com um palavrão. A mãe diz que sabe que a filha desconhece o sentido do que falou, mas, mesmo assim, ficou muito brava com a atitude dela.

Os desabafos dessas mães podem nos servir de guia para uma conversa a respeito dessa idade: os sete anos, um pouco menos ou um pouco mais, de acordo com cada criança.

Nos primeiros anos de vida da criança, ela tem uma grande dependência dos pais ou de seus substitutos.

Vamos tomar como exemplo a relação da criança pequena com sua mãe. É um apego enorme e recíproco, não é mesmo?

Isso porque o vínculo criado entre ambas é o responsável pelo desenvolvimento da criança, por sua segurança, por sua identidade etc.

Ou seja, é essa relação que, mesmo à distância, permite à criança explorar o mundo, se conhecer e se reconhecer como participante de um grupo, que é a sua família.

Nesse período, os pais representam para a criança sua proteção, sua defesa, sua garantia de que ela pode viver e experimentar o que quiser. Ficar longe dos pais apenas é possível se a criança sente que quem a recebe conta com a confiança deles.

A partir dos seis anos, mais ou menos, a criança começa a perceber, pelo andamento da vida, que vai começar a crescer. E, mesmo que intuitivamente, pressente que crescer significará se afastar de sua mãe, de seus pais.

Isso pode provocar sentimentos contraditórios: entusiasmo e -por que não?- medo, revolta.

Entusiasmo porque crescer significa ganhar autonomia, mais vida. Medo porque isso significa perder a proteção, a defesa, a garantia de que tudo ficará bem.

É por isso que muitos pais enfrentam momentos de crise com seus filhos dessa faixa de idade. Tudo o que essas crianças precisam é sentir que seus pais continuarão ali, ao seu lado.

Não são medos bobos o que as crianças dessa idade sentem. Esses temores podem ser traduzidos em um dos que o garoto do primeiro exemplo expressa ao pé da letra: medo de ficar sozinho, ou seja, sem seus pais.

A rebeldia, por outro lado, não tem nada de adolescente. É braveza: a criança sabe que os pais se afastarão dela para que ela comece a andar com as próprias pernas.

Toda mãe lembra dos primeiros passos dos seus filhos: hesitantes, desequilibrados, sem harmonia. E assim será também agora, com os primeiros passos de outra ordem.

É preciso que os pais sinalizem aos filhos que eles continuam por ali, estimulando esses passos. Os primeiros podem ser acompanhados, apoiados, apenas para oferecer tranquilidade para que, em seguida, os filhos possam continuar sozinhos.

O que não vale é ampará-los antes que caiam ou impedir que caminhem. Não foi assim com os primeiros passos reais, não deve ser assim com essa nova fase. E sempre é bom lembrar: crescer dói, mas é preciso.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.